domingo, 19 de maio de 2013

O filho de Sobek (1/4)

Percyanos vou dividir a historia em 4. Quero postar tudo ainda hoje. Fiquem atentos




Carter
Ser comido por um crocodilo gigante era ruim o suficiente.
O garoto com a espada brilhando só deixou o meu dia pior.
Talvez eu deva me apresentar.
Sou Carter Kane – meio período calouro do ensino médio, meio período mago, preocupado em tempo integral com todos os deuses egípcios e monstros que estão constantemente tentando me matar.
Tudo bem, essa última parte é um exagero. Nem todos os deuses querem me matar. Só muitos deles – mas isso meio que faz sentido, desde que eu sou um mago na Casa da Vida. Nós somos tipo a polícia para as forças sobrenaturais do Egito Antigo, garantindo que eles não causem muita destruição no mundo moderno.
De qualquer forma, nesse dia em particular eu estava caçando um monstro trapaceiro em Long Island. Nossos videntes tem pressentido uma perturbação mágica na área há várias semanas. Então as notícias locais começaram a reportar que uma grande criatura tinha sido avistada em lagoas e pântanos perto da Montauk Highway – uma criatura que estava comendo animais e plantas selvagens e assustando os cidadãos locais. Um repórter até o chamou de o Monstro do Pântano de Long Island. Quando mortais começam a dar alarme, você sabe que é hora de checar as coisas.
Normalmente a minha irmã, Sadie, ou alguns outros dos nossos iniciados da Casa do Brooklyn teriam vindo comigo. Mas todos eles foram para o Primeiro Nomo no Egito para uma semana inteira de sessões de treinamento sobre controle de demônios de queijo (sim, eles são reais – acredite em mim, você não quer saber), então eu estava por minha conta.
Eu havia engatado a haste do nosso barco voador em Freak, meu grifo de estimação, e nós passamos a manhã zumbindo pelo litoral sul, procurando por sinais de problemas. Se você está se perguntando por que eu não ando nas costas do Freak, imagine duas asas no estilo beija-flor batendo mais rápido e mais potente do que as lâminas de um helicóptero. A não ser que você queira ser fatiado, é melhor andar no barco.
Freak tinha um nariz muito bom pra magia. Depois de umas duas horas de patrulha, ele guinchou “FREEEEEEK!” e deu uma guinada para a esquerda, circulando sobre uma entrada verde pantanosa entre dois bairros.
— Lá em baixo? — perguntei.
Freak estremeceu e grasnou, chicoteando sua cauda farpada nervosamente.
Eu não podia ver muita coisa abaixo de nós – só um rio amarronzado reluzindo no ar quente de verão, retorcendo por entre grama do pântano e aglomerados de árvores retorcidas até que desaguava na Moriches Bay. A área parecia um pouco com o Delta do Nilo lá no Egito, exceto que aqui o pantanal era rodeado em ambos os lados por bairros residenciais com fileiras atrás de fileiras de casas com telhados cinzentos. No norte, uma linha de carros avançada através da Montauk Highway – pessoas de férias escapando da cidade apinhada para aproveitar a apinhada Hamptons.
Se tivesse mesmo um monstro do pântano carnívoro abaixo de nós, eu me perguntava quanto tempo ele levaria antes de desenvolver o gosto por carne humana. Se isso acontecesse... bem, estava rodeado por um Buffet bem farto.
— Tudo bem — eu disse para Freak — Desça-me para a margem do rio.
Logo que eu pus o pé para fora do barco, Freak guinchou e zumbiu pelo céu, arrastando o barco com ele.
— Hey! — eu gritei pra ele, mas era tarde demais.
Freak se assusta facilmente. Monstros carnívoros tendem a afugentá-lo. Assim como fogos de artifício, palhaços e o cheiro da estranha bebida da Sadie, British Ribena (Não posso culpá-lo por esse último. Sadie foi criada em Londres e desenvolveu alguns gostos muito estranhos).
Eu teria que cuidar desse monstro, e depois assoviar para Freak me buscar quando estivesse acabado.
Abri minha mochila e chequei meus suprimentos: um pouco de corda encantada, minha varinha curvada de mármore, um bocado de cera para fazer estatuetas shabti mágicas, meu kit de caligrafia e uma poção de cura que minha amiga Jaz fabricou para mim há algum tempo. (Ela sabe que eu tenho a tendência de me machucar).
Só tinha mais uma coisa que eu precisava.
Eu me concentrei e estendi a mão para dentro do Duat. Nos últimos meses, eu fiquei bom em estocar provisões de emergência no reino das sombras – armas extras, roupas limpas, Fruit by the Foot e um engradado gelado de root beer - mas colocar minha mão dentro da uma dimensão mágica ainda era estranho, como empurrar através de várias pesadas e frias camadas cortinadas. Eu fechei meus dedos em volta do punho da minha espada e a puxei para fora – um khopesh pesado com uma lâmina curvada como um ponto de interrogação. Armado com minhas espada e varinha, eu estava pronto para dar um passeio pelo pântano em busca de um monstro faminto. Que alegria!
Eu entrei na água e imediatamente afundei até os joelhos. O fundo do rio parecia feito de ensopado congelado. Cada passo, meus sapatos faziam sons grosseiros – suck-plop, suck-plop – que eu estava contente que Sadie não estava comigo. Ela nunca pararia de rir.
Pior ainda, fazendo tanto barulho desse jeito, eu sabia que não seria capaz de me esgueirar sorrateiramente atrás de nenhum monstro.
Mosquitos estavam me atacando. De repente eu me senti nervoso e solitário.
Poderia ser pior, eu disse a mim mesmo. Eu poderia estar estudando demônios de queijo.
Mas eu não consegui me convencer. Num bairro ali por perto, eu ouvi crianças gritando e rindo, provavelmente brincando algum jogo. Eu me perguntei como seria isso – ser uma criança normal, de bobeira com os amigos numa tarde de verão.
A ideia era tão boa que eu me distraí. Eu não notei as ondulações na água até que uns quarenta e cinco metros à minha frente alguma coisa subiu à superfície – uma linha de calombos de couro preto esverdeado. Submergiu instantaneamente de novo, mas eu sabia com o que eu estava lidando agora. Eu tinha visto crocodilos antes, e esse era um assustadoramente grande. 
Lembrei-me de El Paso, no inverno retrasado, quando eu e minha irmã havíamos sido atacados pelo deus crocodilo Sobek. Isso não era uma boa memória.
O suor escorria pelo meu pescoço.
— Sobek — murmurei — se isso foi você, brincando comigo de novo, eu juro por Rá...
O deus crocodilo havia prometido nos deixar em paz agora que estávamos juntos com seu chefe, o deus sol. Ainda assim... crocodilos ficam com fome. E então, eles tendem á esquecer suas promessas.
Nenhuma resposta da água. A ondulação diminuiu.
Quando se trata de sentir monstros, meus instintos mágicos não são muito afiados, mas a água na minha frente parecia muito mais escura. Isso significava ou que era profunda, ou algo grande estava escondido sob a superfície.
Eu quase esperava que fosse Sobek. Pelo menos, então eu tinha uma chance de falar antes dele me matar. Sobek gostava de se vangloriar.
Infelizmente, não era ele.
O próximo microssegundo, enquanto a água entrava em erupção em torno de mim, percebi tardiamente que eu deveria ter trazido todo o Vigésimo Primeiro Nomo todo para me ajudar. Eu registrei olhos amarelos brilhantes tão grandes quanto a minha cabeça, o brilho de joias de ouro em volta de um pescoço enorme. Então mandíbulas monstruosas abriram – cumes de dentes tortos e uma extensa área rosada da boca, grande o suficiente para engolir por um caminhão de lixo.
E a criatura me engoliu inteiro.
Imagine ser empacotado á vácuo de cabeça para baixo dentro de um gigantesco e viscoso saco de lixo. Estar na barriga do monstro era assim, só que mais quente e fedorento.
Por um momento, eu estava atordoado demais para fazer qualquer coisa. Eu não podia acreditar que eu ainda estava vivo. Se a boca do crocodilo fosse menor, ele poderia ter me partido ao meio. Do tamanho que era, ele me engoliu em uma única porção tamanho Carter, então eu poderia apreciar ser digerido lentamente.
Sorte, certo?
O monstro começou a se debater, o que tornava difícil pensar. Eu prendi a respiração, sabendo que poderia ser meu último fôlego. Eu ainda tinha minha espada e varinha, mas eu não podia usá-los com meus braços presos ao meu lado. Eu não poderia alcançar qualquer uma das coisas na minha bolsa.
O que deixou apenas uma resposta: a palavra de poder. Se eu pudesse pensar no símbolo hieróglifo correto e falar em voz alta, posso convocar alguma força industrial mágica do tipo ira-dos-deuses para explodir um caminho para fora deste réptil.
Em teoria: uma grande solução.
Na prática: Eu não sou tão bom com as palavras de poder, mesmo na melhor das situações. Sufocando dentro de uma escura e fedorenta goela de réptil não estava ajudando a me concentrar.
Você pode fazer isso, eu disse a mim mesmo.
Depois de todas as aventuras perigosas que eu tive, eu não podia morrer assim. Sadie ficaria arrasada. Então, depois que lidasse com sua dor, ela iria rastrear a minha alma no vida após a morte egípcia e iria me importunar sem piedade pelo quão estúpido eu fui.
Meus pulmões queimavam. Eu estava apagando. Eu escolhi uma palavra de poder, convoquei toda a minha concentração e me preparei para falar.
De repente, o monstro deu uma guinada para cima. Ele rugiu, o que soava muito estranho por dentro, e sua garganta contraiu em volta de mim como se eu estivesse sendo espremido para fora de um tubo de pasta de dente. Eu fui atirado para fora da boca da criatura e cai na grama do pântano.
De alguma forma eu consegui ficar de pé. Cambaleei ao redor, meio cego, ofegante e coberto com gosma de crocodilo, que cheirava a um tanque espumante de peixes.
A superfície do rio fervia com bolhas. O crocodilo havia partido, mas de pé no pântano cerda de vinte pés de distância estava um adolescente em jeans e uma camiseta laranja desbotada que dizia ACAMPAMENTO alguma coisa. Eu não pude ler o resto. Ele parecia mais velho que eu - talvez dezessete anos - com os cabelos negros despenteados e olhos verde-mar. O que realmente me chamou a atenção foi sua espada - uma lâmina reta de dois gumes brilhando com uma tênue luz bronze.
Eu não tenho certeza qual de nós dois estava mais surpreso.
Por um segundo, o Garoto do Acampamento apenas me encarou. Ele notou minha khopesh e varinha, e eu tive a impressão que ele já havia visto coisas como está. Mortais normais têm problemas em ver mágica. Seus cérebros não conseguem interpretá-la, então eles, ao invés disso, desviam o olhar para minha espada, e veem um taco de baseball ou uma bengala.
Mas esse garoto... ele era diferente. Eu suspeitei que ele fosse um mago. O único problema é, eu conheço a maioria dos magos dos nomos da América do Norte, e eu nunca vi esse cara antes. E também nunca vi uma espada como essa. Tudo sobre ele parecia... não-Egípcio.
— O Crocodilo — Eu disse, tentando manter a voz calma e uniforme. — Para onde ele foi?
O Garoto do Acampamento franziu a testa — De nada.
— O quê?
— Eu espetei o crocodilo no traseiro. — Ele imitou a ação com sua espada — Esse foi o motivo dele ter vomitado você. Então, de nada. O que você está fazendo aqui?
Eu devo admitir que não estava em meu melhor humor. Eu fedia. Eu estava machucado. E, sim, eu estava um pouco embaraçado: o famoso Carter Kane, chefe da Casa do Brooklyn, havia sido expelido da boca do crocodilo igual a uma bola de pelo gigante.
— Eu estava descansando — Eu disparei — O que você pensou que eu estava fazendo? Agora, quem é você, e por que você está lutando com o meu monstro?
— Seu monstro? — O cara se arrastou até mim através da água. Ele não pareceu ter problema algum com a lama. — Olha, cara, eu não sei quem é você. Mas este crocodilo vem aterrorizando Long Island por semanas. Eu meio que levei para o lado pessoal, já que essa é minha área. Alguns dias atrás, ele comeu um de nossos pégaso.
Uma onda de choque subiu pela minha espinha como se eu tivesse se apoiado em uma cerca eletrificada.
— Você disse pégaso?
Ele tinha outra questão em mente. — É seu monstro ou não?
— Eu não o possuo! — Eu rosnei — Eu estava tentando detê-lo! Agora, onde...
— O crocodilo foi por aqui. — Ele apontou sua espada para o sul. — Eu estaria caçando-o, mas você me surpreendeu.
Ele me avaliou, o que era desconcertante já que ele era mais que dez centímetros mais alto que eu. Eu ainda não podia ler sua camiseta, exceto a palavra ACAMPAMENTO. Em torno de seu pescoço pendia uma tira de couro com algumas contas coloridas de argila, iguais a projetos de artes de crianças. Ele não carregava um pacote mágico ou uma varinha. Talvez ele o guardasse no Duat. Ou talvez fosse apenas um mortal alucinando que tinha acidentalmente encontrado uma espada mágica e pensava que era uma relíquia de um super herói. Relíquias antigas poderiam realmente mexer com a sua mente.
Finalmente ele sacudiu a cabeça. — Eu desisto. Filho de Ares? Você tem que ser um meio-sangue, mas o que aconteceu com sua espada? Está toda dobrada.
— É uma khopesh. — Meu choque estava rapidamente se transformando em raiva. — É para ser curva.
Mas eu não estava pensando sobre a espada. O Garoto do Acampamento havia me chamado de meio-sangue? Talvez eu não tenha ouvido corretamente. Talvez ele quisesse dizer outra coisa. Mas meu pai era Afro americano. Minha mãe era branca. Meio-sangue não era uma palavra que eu gostava.
— Apenas saia daqui — eu disse, rangendo os dentes. — Eu tenho um crocodilo para pegar.
— Cara, eu tenho um crocodilo para pegar — ele insistiu. — Da última vez que você tentou, ele comeu você. Lembra-se?
Meus dedos apertaram ao redor do punho da minha espada. — Eu tinha tudo sob controle. Eu estava prestes a convocar um punho...
Pelo o que aconteceu a seguir, eu assumo total responsabilidade.
Não foi minha intenção. Honestamente. Mas eu estava com raiva. E como eu posso ter mencionado, nem sempre eu sou bom em canalizar palavras de poder. Enquanto eu estava na barriga do crocodilo, me preparava para convocar o Punho de Hórus, uma mão azul e brilhante gigante que pode pulverizar portas, paredes, e praticamente qualquer outra coisa que ficar em seu caminho. Meu plano era socar o monstro para abrir uma saída. Bruto, sim, mas esperançosamente eficaz.
Eu acho que aquele feitiço ainda estava em minha cabeça, pronto para ser disparado como uma arma carregada. Encarar o Garoto do Acampamento me deixou furioso, para não mencionar tonto e confuso; por isso quando eu quis dizer a palavra punho em Inglês, saiu em egípcio antigo em vez disso: khefa
Um hieróglifo um simples:
 
Você não imagina o quanto de problemas pode causar. 


Leia a segunda parte AKI 

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