domingo, 19 de maio de 2013

O filho de Sobek (2/4)


Leia a 1º parte da historia  AKI 
Assim que eu disse a palavra, o símbolo brilhou no ar entre nós. Um punho gigante do tamanho de uma máquina de lavar louça surgiu brilhando e lançou o Garoto do Acampamento para a próxima cidade.
Quer dizer, eu literalmente o soquei para fora de seus sapatos. Ele disparou do rio com um alto suck-plop! E a última coisa que eu vi foi seus pés descalços atingir a velocidade de escape enquanto ele voou para trás e desapareceu de vista.
Não, eu não me senti bem com isso. Bem... talvez um pouquinho. Mas eu também me senti mortificado. Mesmo que o cara fosse um idiota, magos não deveriam sair por aí socando crianças, os colocando em órbita com o Punho de Hórus.
—Oh, ótimo. — Me bati na testa.
Eu comecei a atravessar o pântano, preocupado que eu poderia ter realmente matado o garoto. — Cara, me desculpe! — Gritei, esperando que ele pudesse me ouvir. — Você está -?
A onda veio do nada.
Uma parede de água de 6 metros se chocou em mim e me empurrou de volta ao rio. Eu me levantei confuso, com um gosto horrível de peixe em minha boca. Removi a sujeira dos meus olhos a tempo de ver o Garoto do Acampamento saltando em minha direção no estilo ninja, com a espada levantada.
Eu posicionei minha khopesh para me defender. Eu só consegui impedir que minha cabeça fosse partida em duas, pois o garoto do acampamento era forte e rápido. Enquanto eu recuava, ele avançava mais e mais. Todas às vezes, eu conseguia desviar, mas eu posso dizer que fui superado. Sua espada era mais leve e rápida, e – sim, eu admito – ele era um melhor espadachim.
Eu queria explicar que foi um acidente. Eu não era o seu inimigo. Mas eu precisei de toda a minha concentração somente para conseguir desviar de raspão.
O Garoto do Acampamento, no entanto, não tinha problema para conversar.
— Agora eu entendi — ele disse, mirando em minha cabeça. — Você é algum tipo de monstro.
CLANG! Eu interceptei o golpe e recuei.
— Eu não sou um monstro —, rebati.
Para combater esse cara, eu teria que usar mais que apenas uma espada. O problema foi que eu não queria machuca-lo. Apesar do fato de que ele estava tentando me transformar em um sanduiche sabor churrasco Kane, eu ainda me sentia mal por começar a luta.
Ele atacou de novo, e eu não tive escolha. Usei minha varinha dessa vez, pegando sua espada através da curva da varinha e canalizando um pouco de mágica através de seu braço. O ar entre nós piscou e estourou. O Garoto do Acampamento recuou. Faíscas azuis de feitiço piscaram ao redor dele, como se minha magia não soubesse o que fazer com ele. Quem era esse garoto?
— Você disse que o crocodilo era seu. — O garoto fez uma careta, com fúria saindo de seus olhos verdes. — Você perdeu seu bichinho de estimação, eu suponho. Talvez você seja um espírito do Mundo Inferior, vindo através das Portas da Morte?
Antes mesmo que eu pudesse processar aquela pergunta, ele estendeu sua mão livre. O rio reverteu seu curso e me fez escorregar.
Eu consegui me levantar, mas estava ficando realmente cansado de beber água lamacenta. Enquanto isso, o Garoto do Acampamento se preparou de novo, com sua espada levantada para matar. No desespero, eu derrubei minha varinha. Coloquei minha mão em minha mochila e meus dedos se fecharam ao redor de um pedaço de corda.
Eu o tirei e gritei a palavra comando ‘TAS!’ – cego – enquanto a espada de bronze do Garoto do Acampamento cortava meu pulso.
Meu braço todo se torceu em agonia. Minha visão embaçou. Pontos amarelos dançaram em meus olhos. Deixei cair minha espada e agarrei meu pulso, ofegando por ar, ignorando tudo exceto a dor excruciante.
No fundo do meu consciente, eu sabia que o Garoto do Acampamento podia me matar facilmente. Por alguma razão, ele não matou. A onda de náusea me fez me dobrar.
Eu me forcei a olhar para o ferimento. Havia muito sangue, mas eu lembrei algo que Jaz tinha me contado uma vez na enfermaria da Casa do Brooklyn: cortes costumam parecer muito pior do que eles realmente são. Eu esperava que aquilo fosse verdade. Eu pesquei um pedaço de papiro da minha mochila e o pressionei contra o ferimento como uma bandagem improvisada.
A dor ainda era terrível, mas a náusea tornou-se mais tolerável. Meus pensamentos começaram a clarear e eu me perguntava por que eu ainda não havia sido golpeado.
O Garoto do Acampamento estava sentado nas proximidades, com água até a cintura, parecendo abatido. Minha corda mágica tinha se enrolado ao redor do seu braço que segurava a espada, e então prendeu sua mão ao lado de sua cabeça. Incapaz de soltar a espada ficou parecendo que ele tinha um único chifre de rena brotando próximo à sua orelha. Ele puxou a corda com a mão livre, mas naturalmente ele não poderia fazer nenhum progresso.
Finalmente ele apenas suspirou e olhou para mim.
— Eu realmente estou começando a odiar você.
— Me odiar? — eu protestei — Eu estou jorrando sangue aqui! E você que começou tudo isso por me chamar de meio-sangue!
— Ahh, por favor. — O Garoto Campista levantou vacilante, sua espada antena fazendo-o se desequilibrar. — Você não pode ser mortal. Se você fosse, minha espada deveria ter passado direto, atravessando você. Se você não é um espírito ou um monstro, tem que ser um meio-sangue. Um semideus trapaceiro do exército de Cronos, eu acho.
A maior parte do que esse cara disse, eu não entendi. Mas uma coisa eu entendi.
— Então, quando você disse “meio-sangue”...
Ele olhou para mim como se eu fosse um idiota.
— Eu quis dizer semideus. Sim. O que você acha que eu quis dizer?
Eu tentei processar isso. Eu já tinha ouvido falar do termo semideus antes, mas não era um conceito Egípcio. Talvez esse cara estivesse sentindo que eu tive uma ligação com Hórus, que eu poderia canalizar o poder do deus... mas por que ele descrevia tudo isso de forma tão estranha?
— O que você é? — eu perguntei — Meio mágico de combate, meio elementar da água? Com que nomo você está?
O garoto riu amargamente.
— Cara, eu não sei sobre o que você está falando. Eu não saio com gnomos. Sátiros às vezes. E Ciclopes, mas não com gnomos.
A perda de sangue deveria ter me deixado zonzo. As palavras dele se destacavam na minha cabeça como se fossem bolas tiradas na loteria: ciclopes, sátiros, semideuses, Cronos. Mais cedo ele havia mencionado Ares. Este era um deus Grego, não Egípcio.
Eu senti como se o Duat tivesse se aberto debaixo de mim, tentando me empurrar para as profundezas. Grego... não Egípcio.
Uma ideia começou a se formar na minha mente. E eu não gostei dela. Na verdade, isso me assustou muito. Apesar de toda a água do pântano que eu engoli, eu sentia a minha garganta seca.
— Olhe, — eu falei — Me desculpe acertar você com aquele feitiço de punho. Foi um acidente. Mas o que eu não entendo... é que aquilo deveria ter te matado. Mas não aconteceu. Isso não faz sentido.
— Não fique tão desapontado. – ele murmurou. — Mas, já que estamos falando nisso, você deveria estar morto também. Não há muitas pessoas que podem lutar contra mim tão bem. E a minha espada deveria ter vaporizado o seu crocodilo.
— Pela última vez, ele não é meu crocodilo.
— Certo, tanto faz. — O campista olhou desconfiado. — O ponto é que eu atingi o crocodilo num ótimo lugar, mas isso só o fez ficar com raiva. Bronze Celestial deveria ter transformado ele em pó.
— Bronze Celestial?
Nossa conversa foi interrompida por um grito vindo das proximidades – a voz aterrorizada de uma criança.
Meu coração se apertou. Eu era realmente um idiota. Eu tinha esquecido o porquê de nós estarmos aqui. Eu olhei para o Campista.
— Nós temos que parar o crocodilo.
— Trégua, — ele sugeriu.
— Sim, — eu respondi. — Nós podemos continuar tentando matar um ao outro depois de cuidar do crocodilo.
— Fechado. Agora, você pode, por favor, desamarrar a minha mão da minha cabeça? Eu estou me sentindo como um unicórnio esquisito.
Eu não direi que confiávamos um no outro, mas agora, ao menos, tínhamos uma causa comum. Ele convocou seus sapatos para fora do rio – eu não tinha ideia como – e os colocou. Então ele me ajudou a enfaixar a minha mão com uma tira de linho e esperou enquanto eu bebia metade da minha poção de cura.
Depois disso, eu me senti bem o suficiente para correr atrás dele em direção ao som dos gritos.
Eu achava que estava muito bem fisicamente – com a prática do combate magico, carregando artefatos pesados e jogando basquete com Khufu e seus amigos babuínos (não mexa com babuínos quando se tratar de aros). Porém, eu tinha que me esforçar muito para acompanhar o Garoto do Acampamento.
O que me lembrou, eu estava ficando cansado de chamá-lo assim.
— Qual o seu nome? – Eu perguntei, arquejando enquanto eu corria atrás dele.
16
Ele me olhou cauteloso.
— Eu não tenho certeza se eu devo te contar. Nomes podem ser perigosos.
Ele estava certo, é claro. Nomes tinham poder. Um tempo atrás, minha irmã, Sadie, aprendeu o meu ren, meu nome secreto, e isso ainda me causa muita aflição. Mesmo com o nome comum de alguém, um mágico habilidoso poderia realizar vários tipos de danos.
— É justo. – Eu disse. — Eu direi primeiro. Sou Carter.
Acho que ele acreditou em mim. As linhas ao redor dos seus olhos relaxaram um pouco.
— Percy. — Ele respondeu.
Isso soou para mim como um nome incomum – Britânico, talvez, embora o garoto tenha falado e agido muito como um Americano.
Nós pulamos um tronco podre e finalmente saímos do pântano. Começamos então a subir por uma encosta gramada em direção as casas próximas quando eu me dei conta de que mais de uma voz estava gritando lá em cima agora. Não era um bom sinal.
— Apenas avisando, — Eu falei para Percy, — você não pode matar monstros.
— Apenas me observe. — Percy resmungou.
— Não, eu quero dizer que eles são imortais.
— Eu já ouvi isso antes. Eu tenho vaporizado uma porção de imortais e os enviado de volta para o Tártaro.
Tártaro? Eu pensei.
Conversar com Percy estava me dando uma forte dor de cabeça. Isso me lembrava da vez em que meu pai me levou para a Escócia para mais uma de suas palestras sobre egiptologia. Eu tentei falar com alguns dos locais e eu sabia que eles falavam inglês, mas em muitas das sentenças havia uma diferença na linguagem – palavras e pronunciações diferentes – e eu me perguntava, o que raios eles estavam falando. Percy era assim. Ele e eu quase falávamos a mesma linguagem – magia, monstros, etc. Mas o seu vocabulário era totalmente errado.
— Não, — tentei novamente. — Este monstro é um petsuchos, um filho de Sobek.
— Quem é Sobek? - Ele perguntou.
— Senhor dos crocodilos, Um deus egípcio.
Isso o fez parar. Ele me encarou, e eu podia jurar que o ar entre nós se tornou eletricidade. Uma voz, bem no fundo da minha cabeça me disse: Cale a boca. Não conte mais nada para ele.
Percy olhou de relance para a Kopesh que eu tinha recuperado do rio e depois para a varinha no meu cinto.
— Sério, de onde você é?
— Originalmente? - eu perguntei. — Los Angeles. Agora eu vivo no Brooklyn.
Aquilo pareceu não o ter feito se sentir muito melhor.
— Então, este monstro, Pé-de-Suco ou qualquer coisa assim...
— Petsuchos - eu disse. — É uma palavra grega, mas o monstro é egípcio. Era como a mascote do templo de Sobek, venerado como um deus vivo.
Percy grunhiu.
— Você fala como a Annabeth.
— Quem?
— Ninguém. Apenas esqueça a aula de história. Como nós matamos aquilo?
— Eu já lhe disse...
De cima veio outro grito, seguido de um sonoro CRUNCH, como o som emitido por um compactador de metal.
Nós corremos para o topo da colina, pulamos a cerca do quintal de alguém, e corremos direto para uma área residencial sem saída.
Exceto pelo crocodilo gigantesco no meio da rua, aquela vizinhança poderia ser em qualquer lugar nos Estados Unidos. Na vizinhança havia meia dúzia de casas térreas, com carros econômicos nas garagens, caixas de correios na calçada e bandeiras nas varandas.
Infelizmente a cena totalmente americana estava arruinada pelo monstro, que estava ocupado comendo um Prius verde que possuía um adesivo no para-choque em que se lia MEU POODLE É MAIS ESPERTO DO QUE O SEU ESTUDANTE DE HONRA. Talvez o petsuchos pensasse que o Toyota era outro crocodilo, e ele estava afirmando sua dominância. Talvez ele também não gostasse de poodles ou estudantes de honra.
Em todo o caso, na terra o crocodilo parecia muito mais assustador do que aparentava dentro da água. Ele tinha cerca de 12 metros de comprimento, tão alto quando um caminhão, com uma cauda tão maciça e poderosa que virava carros toda vez que balançava. Sua pele brilhava em verde escuro e escorria água que se acumulava em poças embaixo de seus pés. Eu me lembro de Sobek ter me dito que seu suor divino tinha originado os rios do mundo. Eca. Eu imaginei que esse monstro tinha o mesmo suor sagrado. Duplo eca.
Os olhos da criatura emitiam um fraco brilho amarelo. Seus dentes brancos e irregulares brilhavam. Mas a coisa mais estranha sobre ele era seu brilho. Ao redor de seu pescoço pendia uma elaborada corrente de ouro e pedras preciosas suficientes para se comprar uma ilha privada.
O colar era o que me havia feito perceber que o monstro era um petsuchos lá no pântano. Eu tinha lido que o animal sagrado de Sobek usava algo parecido no Egito, embora o que o monstro estava fazendo em um bairro de Long Island, eu não tinha ideia.
Quando que Percy e eu entramos em cena, o crocodilo fechou a mandíbula e partiu o Prius verde em dois, espalhando vidro, metal e pedaços de airbags através dos gramados.
Assim que ele deixou cair os destroços do carro, meia dúzia de crianças apareceu do nada – aparentemente estavam se escondendo atrás de algum dos outros carros – e perseguiram o monstro, gritando o máximo que seus pulmões aguentavam.
Eu não podia acreditar. Eles eram apenas crianças em idade da pré-escolar, armados com nada mais que balões e armas de água. Imaginei que estivessem em férias de verão e estavam se refrescando com uma guerra de água quando o monstro os interrompeu.
Não havia adultos nas redondezas. Talvez todos estivessem trabalhando. Ou talvez estivessem dentro das casas, desmaiados de susto.
As crianças aparentavam sentir mais raiva do que medo. Elas corriam em volta do crocodilo, arremessando balões d’água que estouravam inofensivamente contra a couraça do monstro.

Leia a 3° parte AKI 

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