quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

1° e 2 cap de "O filho de Netuno" completo!

Pessoinhas, eu acho melhor eu ir postando aos pouco os capítulos de "O filho de Netuno" então aki esta o 1° e o 2° cap:
o-filho-de-netuno.jpg (1065×1600)

                  I Percy



AS SENHORAS COM CABELO DE SERPENTE estavam começando a
irritar Percy.
Elas deviam ter morrido há três dias atrás quando ele deixou cair sobre elas uma caixa de bolas de boliche no Napa Bargain Mart1. Elas deviam ter morrido há dois dias atrás quando ele passou sobre elas com um
carro de polícia em Martinez. Elas definitivamente deveriam ter morrido esta manhã quando ele cortou fora suas cabeças no Tilden Park. Não importa quantas vezes Percy as matou e as assistiu se desmoronar em pó, elas apenas se mantiveram reformando como grandes bolas más de poeira. Ele não podia até ter a impressão de fugir delas.
Ele alcançou o topo do morro e prendeu a respiração. Quanto tempo desde a última vez em que ele as matou? Talvez duas horas. Elas nunca pareceram ficar mais tempo mortas que isso. Nos últimos dias, ele quase não dormiu. Ele comeu tudo o que pôde furtar – maquinas de vender Gummi Bears, bagels rançosos, até mesmo um burrito Jack in the Crack, que foi uma nova perda pessoal. Suas roupas estavam rasgadas, queimadas e salpicadas de lama de monstro.
Ele só sobreviveu tanto tempo, porque as duas senhoras de cabelos de serpente – górgonas, elas chamavam a si mesmas – pareciam não poder matá-lo também. Suas garras não cortavam sua pele. Quebravam os dentes sempre que tentaram mordê-lo. Mas Percy não poderia continuar muito mais tempo. Logo que ele entrasse em colapso por exaustão e, em seguida – tão difícil como ele estava para matar, ele tinha certeza de que as Górgonas iriam encontrar um caminho.
Para onde correr?
Ele examinou o seu entorno. Em diferentes circunstâncias, ele poderia ter gostado da vista. À sua esquerda, montes dourados rolavam para o interior, com lagos, bosques e um pequeno número de rebanhos de vacas.
À sua direita, a região plana de Berkeley e Oakland marchavam para o oeste – um vasto tabuleiros de damas dos bairros, com vários milhões de pessoas que provavelmente não querem que a sua manhã seja interrompida por dois monstros e um semideus sujo.
Mais a oeste, a Baía de São Francisco brilhava sob uma névoa prateada. Passado isso, uma parede de névoa engolia mais de São Francisco, deixando apenas o topo dos arranha-céus e as torres da ponte Golden Gate.
Uma vaga tristeza pesava sobre o peito de Percy. Algo lhe dizia que ele esteve em São Francisco antes. A cidade tinha alguma ligação com Annabeth – a única pessoa que ele podia se lembrar de seu passado. Sua memória dela era frustrantemente turva. A loba tinha prometido que ele iria vê-la novamente e recuperar sua memória – se ele tivesse sucesso em sua jornada.
Se ele tentar atravessar a baía?
Era tentador. Ele podia sentir o poder do oceano no horizonte. A água sempre o reviveu. A água salgada era a melhor. Ele descobriu isso dois dias atrás, quando ele tinha estrangulado um monstro do mar, no Estreito Carquinez. Se ele pudesse chegar à baía, ele poderia ser capaz de fazer uma última cartada. Talvez ele pudesse até mesmo afogar as Górgonas. Mas a margem estava à pelo menos dois quilômetros de distância. Ele teria que atravessar toda uma cidade.
Ele hesitou por um outro motivo. A loba Lupa havia lhe ensinado a aguçar seus sentidos – confiar nos instintos que o estavam guiando para o sul. Seu radar autodirecional estava formigando como louco. O fim de sua jornada estava próximo – quase diretamente debaixo dos seus pés. Mas como poderia ser isso? Não havia nada no topo da colina.
O vento mudou. Percy sentiu o cheiro azedo de réptil. A cem metros ladeira abaixo, algo balançou os galhos – madeiras estalando, mastigando as folhas, assobiando. Górgonas.
Pela milionésima vez, Percy quis que seus narizes não fossem tão bons. Eles sempre disseram que elas podiam sentir o cheiro dele porque ele era um semideus – filho meio-sangue de algum deus romano antigo. Percy tentou rolar na lama, chapinhou através de riachos, até mesmo mantendo purificadores de ar junto ao bolso assim ele teria aquele cheiro de carro novo; mas aparentemente o fedor de um semideus era difícil de mascarar.
Ele correu para o lado oeste do topo. Era demasiado íngreme para descer. A inclinação despencava vinte e quatro metros, direto para o telhado de um complexo de apartamentos construído no lado da colina. Quatro
metros e meio abaixo, uma rodovia surgia a partir da base do morro e terminava o seu caminho em direção a Berkeley.
Ótimo. Não há outro caminho para fora do morro. Ele conseguiu ficar encurralado.
Ele olhou para o fluxo de veículos fluindo para oeste em direção à São Francisco e desejou que ele estivesse em um deles. Então ele percebeu que a estrada deveria atravessar o morro. Deve haver um túnel... diretamente sob seus pés.
Seu radar interno enlouqueceu. Ele estava no lugar certo, demasiado alto. Ele tinha que verificar esse túnel. Ele precisava de um caminho para a auto-estrada – rápido.
Ele atirou fora sua mochila. Ele tinha conseguido pegar um monte de suprimentos no Napa Bargain Mart: um GPS portátil, fita adesiva, superbonder, isqueiro, garrafa de água, rolo de acampar, um travesseiro confortável de panda (como visto na TV), e um canivete suíço – praticamente todas as ferramentas que um semideus moderno poderia desejar. Mas ele não tinha nada que servisse como um pára-quedas ou um trenó.
Isso o deixou com duas opções: pular vinte e quatro metros para sua morte, ou ficar e lutar. Ambas as opções soavam muito ruins.
Ele amaldiçoou e puxou sua caneta do bolso.
A caneta não parecia grande coisa, apenas uma esferográfica regular barata, mas quando Percy a destampava, ela crescia em uma espada de bronze brilhante. A lâmina perfeitamente equilibrada. A alça de couro encaixava na mão como se tivesse sido projetada para ele. Gravado ao longo da guarda estava uma antiga palavra grega que Percy de algum modo entendeu: Anaklusmos - Contracorrente.
Ele acordou com esta espada na sua primeira noite na Casa dos Lobos – dois meses atrás? Mais? Ele havia perdido a trilha. Ele encontrou-se no pátio de uma mansão incendiada no meio do mato, vestindo shorts, uma
camiseta laranja, e um colar de couro com um monte de contas de argila estranho. Contracorrente estava em sua mão, mas Percy não tinha idéia do que ele era, ou como ele tinha chegado lá. Ele estava descalço, congelando e confuso. E então vieram os lobos. . .
Mesmo ao lado dele, uma voz familiar sacudiu-o de volta ao presente:
— Aí está você!
Percy tropeçou para longe da górgona, quase caindo para fora da borda da colina.
Esse era o nome de uma - Beano. Ok, o nome dela não era realmente Beano. Foi o mais perto que Percy pode imaginar, ele era disléxico, porque as palavras se torciam quando ele tentava ler. A primeira vez que ele tinha visto a górgona, posando como recepcionista no Bargain Mart com um grande botão verde que dizia: BEM VINDOS! MEU NOME É STHENO, ele pensou que isso dizia Beano.
Ela ainda estava usando seu colete verde de empregados do Bargain Mart sobre um vestido estampado de flores. Se você apenas olhasse para seu corpo, você poderia pensar que ela era alguma atarracada velha avó – até que você olhasse para baixo e percebesse que ela tinha pés de galo. Ou você olhasse e visse as presas de javali de bronze saindo dos cantos de sua boca. Seus olhos brilhavam vermelhos e em seu cabelo estava um ninho de serpentes brilhantes verdes se contorcendo.
A coisa mais horrível sobre ela? Ela ainda estava segurando a bandeja de prata grande de amostras grátis: Crispy Cheese ’n’ Wieners. Seu prato estava todo amassado de todas as vezes que Percy tinha matado-a, mas essas pequenas amostras pareciam perfeitamente bem. Stheno só ficava carregando-as por toda a Califórnia, para que ela pudesse oferecer a Percy um lanche antes que ela o matasse. Percy não sabia por que ela continuava fazendo isso, mas se ele precisasse de uma armadura, ele iria tomar dela os Crispy Cheese ’n’ Wieners. Esse material era indestrutível.
— Experimente um? — Stheno ofereceu.
Percy afastou-a para longe com sua espada. — Onde está sua irmã?
— Oh, coloque a espada longe, — Stheno censurou. — Você já sabe que, mesmo bronze Celestial não pode matar-nos por muito tempo. Pegue um Cheese ’n’ Wiener! Eles estão à venda nesta semana, e eu odeio matá-lo com o estômago vazio.
— Stheno! — A segunda górgona apareceu à direita de Percy tão rápido, ele não teve tempo para reagir. Felizmente ela estava muito ocupada olhando para a irmã dela, para dar-lhe muita atenção. — Eu lhe disse para deslocar-se sobre ele e matá-lo!
Stheno sorriu vacilante. — Mas, Euryale... — Ela disse o nome como se rimasse com Muriel. — Não posso dar a ele a primeira amostra?
— Não, sua imbecil! — Euryale voltou para Percy e arreganhou suas presas.
Com exceção de seu cabelo, que era um ninho de cobras corais, em vez de víboras verdes, ela parecia exatamente como sua irmã. Seu colete do Bargain Mart, o vestido florido, até mesmo as presas estavam decoradas com adesivos de 50% de desconto. Seu crachá lia-se: OLÁ! MEU NOME É MORRER, MORRA SEMIDEUS!
— Você nos levou um bocado em uma perseguição, Percy Jackson,
— disse Euryale. — Mas agora você está preso, e teremos a nossa vingança!
— Os Cheese ’n’ Wieners estão apenas $2,99, — adicionou Stheno prestativa. — Departamento de mercearia, corredor três.
Euryale rosnou. — Stheno, o Bargain Mart era uma fachada! Você está sendo aborígine! Agora, abaixe a bandeja ridícula e me ajude a matar esse semideus. Ou você se esqueceu que ele é o único que vaporizou
Medusa?
Percy se afastou. Mais quinze centímetros e ele estaria rolando pelo ar. — Olhe, senhora, nós já passamos por isso. Eu nem me lembro de matar Medusa. Eu não me lembro de nada! Não podemos simplesmente fazer uma trégua e falar sobre suas promoções semanais?
Stheno deu à sua irmã um olhar com beicinho, que era difícil de fazer com presas de bronze gigante. — Podemos fazer isso?
— Não! — Os olhos vermelhos de Euryale perfuravam Percy. — Eu não ligo para o que você se lembra, filho do deus do mar. Eu posso sentir o cheiro do sangue da Medusa em você. É fraco, sim, há vários anos, mas você foi o último a derrotá-la. Ela ainda não voltou do Tártaro. A culpa é sua!
Percy realmente não entendeu isso. O conjunto “morrer e em seguida retornar do Tártaro” o conceito deu-lhe uma dor de cabeça. Claro que, assim como a idéia de que uma caneta esferográfica poderia se transformar em uma espada, ou que os monstros podem disfarçar-se com algo chamado Névoa, ou que Percy era o filho de um deus de cracas incrustadas de cinco mil anos atrás. Mas ele acreditava. Mesmo que sua memória tenha sido apagada, ele sabia que era um semideus da mesma maneira ele sabia que seu nome era Percy Jackson. Desde a sua primeira conversa com a loba Lupa, ele admitiu que este louco mundo confuso de deuses e monstros era sua realidade. O que quase o sugou.
— Que tal chamar isso de um empate? — ele disse. — Não posso matá-la. Você não pode me matar. Se vocês são irmãs da Medusa, como a Medusa, que transformava as pessoas em pedra, eu não deveria estar petrificado agora?
— Heróis! — Euryale disse com desgosto. — Eles sempre trazem
isso à tona, assim como a nossa mãe! “Porque você não pode transformar as pessoas em pedra? Sua irmã pode transformar as pessoas em pedra.” Bem, desculpe desapontá-lo, rapaz! Essa foi a maldição de Medusa somente. Ela era a mais terrível na família. Ela tem toda a sorte!
Stheno parecia ferida. — Mamãe disse que eu era a mais hedionda.
— Silêncio! — Euryale estalou. — Quanto a você, Percy Jackson, é verdade que você carrega a marca de Aquiles. Isso faz de você um pouco mais difícil de matar. Mas não se preocupe. Nós vamos encontrar uma
forma.
— A marca de quê?
— Aquiles, — Stheno disse alegremente. — Oh, ele era lindo!
Mergulhado no rio Estige quando uma criança, você sabe, então ele era invulnerável, exceto por um pequeno ponto em seu tornozelo. Isso é o que aconteceu com você, querido. Alguém deve ter te descarregado no Estige e fez a sua pele como o ferro. Mas não se preocupe. Heróis como você sempre tem um ponto fraco. Nós só temos que encontrá-lo, e então nós podemos te matar. Não vai ser lindo? Pegue um Cheese ’n’ Wiener!
Percy tentou pensar. Ele não se lembra de nenhum mergulho no Estige. Então novamente, ele não se lembrava de muita coisa. Sua pele não dava a sensação de ser ferro, mas isso poderia explicar como ele resistiu tanto tempo contra as górgonas.
Talvez, se ele simplesmente caísse da montanha... ele iria sobreviver? Ele não queria se arriscar, não sem alguma coisa para retardar a queda, ou um trenó, ou...
Ele olhou para a travessa de prata grande de amostras grátis de Stheno. Hmm...
 — Reconsiderando? — Stheno perguntou. — Muito inteligente,
querido. Eu adicionei algum sangue de górgona à estes, assim sua morte será rápida e indolor.
Percy estava com a garganta apertada. — Você adicionou o seu sangue no Wieners Cheese ’n’ Wieners?
— Só um pouco. — Stheno sorriu. — Um pequeno corte sobre meu braço, mas você é um doce por se preocupar. O sangue do nosso lado direito pode curar qualquer coisa, você sabe, mas o sangue do nosso lado esquerdo é mortal...
— Sua idiota! — Euryale guinchou. —Você não deveria dizer-lhe isso! Ele não vai comer as salsichas se você lhe disser que estão envenenadas!
Stheno parecia atordoado. — Ele não vai? Mas eu disse que seria rápido e indolor.
— Não se preocupe! — As unhas de Euryale cresceram em garras.
— Nós vamos matá-lo da maneira mais difícil, apenas nos manter cortando até encontrar o ponto fraco. Uma vez que derrotemos Percy Jackson, vamos ser mais famosas que Medusa! Nossa patrona nos recompensará grandemente!
Percy agarrou sua espada. Ele teria que ter tempo para se mover perfeitamente – alguns segundos de confusão, pegue o prato com a mão esquerda...
Mantenha-as falando, pensou ele.
— Antes de me cortar em pedaços, — disse ele, — quem é essa patrona que você mencionou?
Euryale zombou. — A deusa Gaia, é claro! Aquela que nos trouxe de volta do esquecimento! Você não vai viver tempo suficiente para conhecê-la, mas seus amigos irão enfrentar em breve sua ira. Mesmo agora, seus exércitos estão marchando para o sul. Na Festa da Fortuna, ela vai acordar, e semideuses serão ceifados como... como...
— Como os nossos preços baixos do Bargain Mart! — Stheno sugeriu.
— Gah! — Euryale gritou para sua irmã.
Percy teve a abertura. Ele pegou o prato de Stheno, espalhando o venenoso Cheese ’n’ Wieners, e golpeou Contracorrente na cintura de Euryale, cortando-a ao meio. 
Ele ergueu o prato, e Stheno se viu diante de seu próprio reflexo gorduroso.
— Medusa! — ela gritou.
Sua irmã Euryale desmoronou em pó, mas ela já estava começando a se formar novamente, como um boneco de neve que não derrete.
— Stheno, sua idiota! — ela gorgolejava com seu rosto semiformado
a partir do monte de pó. — Isso é apenas o seu próprio reflexo! Apanhe-o!
Percy bateu a bandeja de metal no topo da cabeça de Stheno, e ela desmaiou inconsciente.
Ele colocou o prato atrás do seu traseiro, fez uma oração silenciosa para que o deus romano supervisionasse sua estúpida arte de andar de trenó, e pulou do lado da colina.

        II Percy




UMA ÚNICA COISA QUANDO ESTIVER DESPENCANDO a 80 km/h em uma bandeja de petiscos – se perceber que é uma má idéia quando se está na metade do caminho, já é tarde demais. Percy por pouco escapou de uma árvore, raspou numa pedra e girou trezentos e sessenta graus se atirando em direção à rodovia. A estúpida bandeja de petiscos não tinha direção hidráulica. Ele ouviu as irmãs górgonas gritando e um vislumbre do cabelo de coral de Euryale no topo da colina, mas não teve tempo para se preocupar com isso. O telhado do apartamento pairava abaixo dele como a proa de um navio de batalha.
Colisão frontal em dez, nove, oito...
Ele conseguiu girar para o lado para evitar quebrar as pernas no impacto. A bandeja deslizou pelo telhado e velejou pelo ar. A bandeja foi para um lado. Percy foi para o outro.
Enquanto caía na direção da rodovia, uma cena horrível passou pela sua mente: seu corpo sendo esmagado contra o pára-brisas de um carro esportivo, algum suburbano irritado tentando empurrá-lo com os limpadores.Garoto idiota de dezesseis anos caído do céu! Estou atrasado!
Milagrosamente, uma rajada de vento soprou de um lado – o suficiente para tirá-lo da rodovia e cair em um amontoado de arbustos. Não foi uma aterrissagem suave, mas era melhor que o asfalto.
Percy grunhiu. Ele queria ficar ali e desmaiar, mas tinha que continuar em movimento.
Ele lutou para ficar de pé. Suas mãos estavam arranhadas, mas nenhum osso parecia estar quebrado. Ele ainda tinha a mochila. Em algum lugar da viagem de trenó ele havia perdido a espada, mas Percy sabia que
reapareceria a qualquer hora em seu bolso na forma de caneta. Era parte de sua magia.
Ele olhou para a colina. Era difícil de perder as górgonas, com os cabelos coloridos de cobra e as vestes verdes brilhantes do Bargain Mart. 
Elas estavam descendo o declive, mais lentas que Percy, mas com um pouco mais de controle. Aqueles pés de galinha deviam ser bons em escalada.
Percy supôs que talvez tivesse cinco minutos antes de elas o alcançarem.
Perto dele, uma alta cerca de arame separava a rodovia de uma vizinhança de ruas sinuosas, casas confortáveis e árvores de eucalipto. O arame provavelmente estava lá para impedir as pessoas de irem no meio da rodovia e fazerem coisas idiotas – como esquiar em uma bandeja pela pista – mas as correntes estavam cheias de buracos. Percy podia facilmente entrar na vizinhança. Talvez ele pudesse encontrar um carro e dirigir para oeste para o oceano. Ele não gostava de roubar carros, mas nas últimas semanas, em situações de vida e morte, ele havia “emprestado” vários, inclusive uma viatura policial. Ele iria devolvê-los, mas os carros nunca duraram muito tempo.
Ele olhou para o leste. Bem como havia adivinhado, uma centena de metros da rodovia cortava a base do penhasco. Duas entradas de túneis, um para cada direção do tráfego, o encaravam como duas órbitas de uma caveira gigante. No meio, onde estaria o nariz, uma parede de cimento se sobressaía da colina, com uma porta de metal, como a entrada de uma carvoeira.
Devia ser um túnel de manutenção. Isso é provavelmente o que os mortais pensariam se notassem a porta, de qualquer forma. Mas eles não podiam ver através da Névoa. Percy sabia que a porta era mais que isso.
Duas crianças de armadura flanqueavam a entrada. Elas vestiam uma mistura bizarra de elmos romanos, couraças, bainhas, jeans, camisetas roxas, e tênis de atletismo branco. O guarda da direita parecia uma garota, era difícil de ter certeza com toda aquela armadura. O da esquerda era um cara baixo e forte com um arco e aljava nas costas. Os dois seguravam bastões de madeira com pontas de ferro, como arpões à moda antiga.
O radar interno de Percy silvava como louco. Depois de tantos dias horríveis, ele finalmente havia chegado à sua meta. Seus instintos diziam que se passasse pela porta, devia encontrar segurança pela primeira vez desde que os lobos que o tinham mandado para o sul.
Então por que ele sentia tanto medo?
Mais acima da colina, as górgonas estavam pulando sobre o telhado do apartamento. Três minutos de distância – talvez menos.
Parte dele queria correr para a porta da colina. Ele teria que entrar no meio da rodovia, mas então seria uma corrida curta. Ele podia fazer isso antes das górgonas alcançarem-no.
Parte dele queria rumar a oeste para o oceano. Era onde ele estaria a salvo. Era onde seu poder seria maior. Aqueles guardas romanos na porta deixavam-no preocupado. Algo dentro dele dizia: Esse não é meu território.
Isso é perigoso.
— Você está certo, é claro. — Disse uma voz perto dele.
Percy pulou. Primeiro ele achou que Beano tinha se esgueirado sorrateiramente até ele, mas a senhora sentada nos arbustos era até mais repulsiva que a górgona. Ela parecia uma hippie que tinha sido chutada para o lado da estrada talvez há quarenta anos atrás, onde esteve colecionando lixo e trapos desde então. Ela usava um vestido feito de tecido tie-dye, mantas rasgadas e sacos de plástico de supermercado. Seus tufos de cabelo crespo eram marrom-cinzentos, como espuma de root bear6, amarrados paratrás com uma faixa com o sinal da paz. Verrugas cobriam seu rosto. Quando ela sorriu, mostrou exatamente três dentes.
— Não é um túnel em manutenção. — Confessou. — É a entrada para o acampamento.
Um estremecimento subiu pela espinha de Percy. Acampamento. É era de onde ele veio. Um acampamento. Talvez essa fosse sua casa. Talvez Annabeth estivesse por perto.
Mas algo parecia errado.
As górgonas ainda estavam no telhado do apartamento. Então Stheno gritou de alegria e apontou na direção de Percy.
A velha hippie ergueu as sobrancelhas.
— Não há muito tempo, criança. Você precisa fazer sua escolha
— Quem é você? — Percy perguntou, pensando que não tinha certeza se queria saber. A última coisa que precisava era de outra mortal inofensiva que se transformava em um monstro.
— Ah, pode me chamar de Juno. — Os olhos da senhora cintilaram como se tivesse feito uma piada excelente. — É Junho, não é? Eles nomearam o mês por minha causa!
— Certo... Olha, tenho que ir. Duas górgonas estão vindo. Não quero que elas te machuquem. Juno cruzou as mãos sobre o coração.


— Que fofo! Mas isso faz parte de sua escolha!
— Minha escolha...
Percy olhou nervoso na direção da colina. As górgonas tinham tirado as vestes verdes. Asas saíram de suas costas – pequenas asas de morcego, que brilhavam como bronze.
Desde quando elas tinham asas? Talvez fossem decorações. Talvez fossem muito pequenas para erguer uma górgona no ar. Então as duas irmãs saltaram do apartamento e dispararam na direção dele.
Legal. Muito legal.
— Sim, uma escolha. — Juno disse, como se estivesse sem pressa.
— Pode me deixar aqui à mercê das górgonas e ir para o oceano. Chegaria lá com segurança, eu garanto. As górgonas ficarão bem felizes de me atacar e te deixar ir. No mar, nenhum monstro vai incomodá-lo. Estará seguro no fundo do mar. Pode começar uma nova vida, viver até a maturidade, e escapar de uma grande dose de dor e sofrimento que está em seu futuro.
Percy tinha certeza de que não iria gostar da segunda opção.
— Ou?
— Ou você pode fazer um favor para uma velha senhora. Carregue me para o acampamento com você.
— Carregar você?
Percy esperava que ela estivesse brincando. Então Juno arrumou a saia e o mostrou o pé inchado e roxo.
— Não posso chegar lá sozinha. — Disse ela. — Me carregue para o acampamento do outro lado da rodovia, pelo túnel, e do outro lado do rio.
Percy não sabia o que ela queria dizer com rio, mas isso não parecia ser fácil. Juno parecia ser muito pesada. As górgonas estavam a apenas 80 metros de distância agora, deslizando na direção dele porque sabiam que a caça estava quase acabada.
— E eu teria que te carregar até esse acampamento por quê...?
— Porque seria uma gentileza! — Disse ela. — E se não fizer isso, os deuses morrerão, o mundo que conhecemos perecerá, e todos de sua antiga vida serão destruídos. Claro, você não se lembraria deles, então
suponho que isso não importa. Você estará seguro no fundo do mar...
Percy engoliu. As górgonas gritaram e mergulharam para atacar.
— Se eu for para o acampamento, — ele disse, — vou conseguir minha memória de volta?
— Possivelmente. — Disse Juno. — Mas atenção, você vai se sacrificar muito! Vai perder a marca de Aquiles. Você vai sentir dor, sofrimento e perder tudo o que já conheceu. Mas pode ter uma chance de
salvar seus velhos amigos e recuperar sua antiga vida.
As górgonas estavam circulando no ar, provavelmente estudando a velha, imaginando quem seria o novo jogador antes de atacar.
— E os guardas na porta? — perguntou Percy.
Juno sorriu.
— Ah, eles vão deixar você entrar, querido. Pode confiar naqueles dois. Então, o que me diz? Vai ajudar uma senhora indefesa?
Percy duvidava de que Juno fosse indefesa. No pior dos casos se tratava de uma armadilha. Na melhor das hipóteses este era uma espécie de teste. Percy odiava testes. Desde que perdeu sua memória, sua vida era um grande preencha-o-vazio. Ele era ___________, de __________. Se sentia _______________ e se os monstros o pegassem, ele seria ___________.
Então pensou em Annabeth, a única parte da sua antiga vida que ele se lembrava, que tinha certeza. Ele tinha que encontrá-la.
— Eu vou te carregar. — Percy pegou a velha.
Ela era mais leve do que ele esperava. Percy tentou ignorar seu hálito azedo e as mãos calejadas que agarraram o seu pescoço. Ele atravessou o trânsito. O motorista buzinou, outro gritou algo que foi se perdendo no vento. A maioria apenas desviou e olhou irritado, como se tivessem que lidar com um monte de crianças carregando velhas hippies por toda a rodovia em Berkeley. Uma sombra pairou sobre ele. Stheno gritou alegremente:
— Garoto esperto! Achou uma deusa para carregar, não é?
Uma deusa?
Juno gargalhou com prazer, murmurando Oooopa, com um carro quase os matando.
Em algum lugar à esquerda, Euryale gritou:
— Peguem-nos! Dois prêmios são melhores que um!
Percy fugiu para o outro lado da pista. De algum jeito chegou vivo.
Ele viu as górgonas descendo, carros desviando enquanto os monstros passavam. Ele se perguntou o que os mortais viam através da Névoa – pelicanos gigantes? Alguém de asa delta fora de curso? A loba Lupa disse a ele que as mentes mortais não conseguiam acreditar em nada – exceto na verdade.
Percy correu para a porta da colina. Juno ficava mais pesada a cada passo. O coração de Percy deu um pulo. Suas costelas doeram. Um dos guardas gritou. O cara com o arco tirou uma flecha. Percy gritou:
— Esperem!
Mas o garoto não estava mirando nele. A flecha passou perto da cabeça de Percy. Uma górgona gemeu de dor. O segundo guarda preparou a lança, gesticulando freneticamente para Percy se apressar.
Oitenta metros da porta. Quarenta e oito.
— Te peguei! — Berrou Euryale. Percy virou enquanto uma flecha batia na testa dela. Euryale rolou pela pista. Um caminhão a acertou e a empurrou por algumas centenas de metros, mas ela só escalou a cabine, tirou a flecha da cabeça e voltou ao ar.
Percy chegou à porta.
— Valeu. — Ele disse aos guardas. — Bom tiro.
— Isso devia tê-la matado! — o arqueiro protestou.
— Bem-vindo ao meu mundo. — Percy murmurou.
— Frank, — a garota disse. — Traga-os para dentro, rápido!
Aquelas são górgonas.
— Górgonas? — A voz do arqueiro fraquejou. Era difícil falar muito sobre ele, por baixo do elmo, mas ele parecia forte como um lutador, talvez com catorze ou quinze anos. — A porta vai segurá-las?
Nos braços de Percy, Juno gargalhou. — Não, não vai. Adiante, Percy Jackson! Atravesse o túnel, o rio!
— Percy Jackson? — A guarda tinha pele escura, com cabelo encaracolado por baixo do elmo. Ela parecia mais nova que Frank – talvez treze anos. Sua espada embainhada descia quase até o tornozelo. Mesmo
assim, Ela soava como a encarregada.
— Certo, você obviamente é um semideus. Mas quem é a... — Ela olhou para Juno. — Não importa. Só entrem. Vou dar cobertura.
— Hazel, — o garoto disse. — Não banque a maluca.
— Vai! — ela exigiu.
Frank amaldiçoou em outra língua – era latim? – e abriu a porta.
— Vamos!
Percy seguiu, cambaleando com o peso da senhora, que estava definitivamente ficando mais pesada. Ele não sabia como aquela Hazel seguraria as górgonas sozinha, mas ele estava muito cansado para discutir.
O túnel atravessava a rocha sólida, com a largura e altura de um corredor de escola. Primeiro parecia um típico túnel de manutenção, com cabos elétricos, sinais de perigo e caixas de fusão nas paredes, lâmpadas em gaiolas de fio ao longo do teto. Enquanto corria para o fundo da colina, o chão de cimento mudava para azulejos de mosaico. As luzes mudaram para tochas de canavial, que queimavam, mas não soltavam fumaça. Alguns metros à frente, Percy viu um retângulo de luz do dia.
A senhora estava agora mais pesada que uma pilha de sacos de areia.
Os braços de Percy sacudiram a tensão. Juno murmurou uma música em latim, como uma canção de ninar, que não ajudou Percy a se concentrar.
Atrás dele, as vozes das górgonas ecoaram no túnel. Hazel gritou. Percy ficou tentado a descarregar Juno e voltar para ajudar, mas então o túnel inteiro sacudiu com o rugido de pedras caindo. Houve um som de grito,
como as górgonas tinham feito quando Percy derrubou bolas de boliche encaixotadas nelas em Napa. Ele olhou para trás. O fim oeste do túnel agora estava cheio de poeira.
— Não deveríamos ver se Hazel está bem? — ele perguntou.
— Ela vai ficar bem... espero. — Frank disse. — Ela é boa no subterrâneo. Fique correndo! Estamos quase lá.
— Quase onde?
Juno riu. — Todas as estradas o levam aqui, criança. Devia saber disso.
— Detenção? — Percy perguntou.
— Roma, criança. — A senhora disse. — Roma.
Percy não tinha certeza que havia ouvido certo. Verdade, sua memória se fora. Seu cérebro não se sentia bem desde que havia acordado na Casa dos Lobos. Mas ele tinha certeza absoluta que Roma não ficava na
Califórnia.


Eles continuaram correndo. A luz no fim do túnel ficou mais brilhante, e finalmente saíram à luz do sol.
 Percy congelou. Sobre seus pés estava um vale em forma de tigela de vários metros de largura. O chão do vale estava repleto de pequenas colinas, planícies douradas e trechos de floresta. Um pequeno rio claro
desaguava em um lago no centro e ao redor do perímetro.
Devia ser em algum lugar ao norte da Califórnia – carvalhos vivos e árvores de eucalipto, colinas douradas e céu azul. Aquela montanha grande do interior – como era chamada, Monte Diablo? – ascendia à distância, bem aonde devia estar.
Mas Percy sentiu como se tivesse entrado em um mundo secreto. No centro do vale, abrigado pelo lago, estava um cidadezinha de edifícios de mármore branco com telhados de telha vermelha. Alguns tinham abóbadas e arcadas de colunas, como monumentos nacionais. Outros pareciam palácios, com portas douradas e jardins largos. Ele podia ver uma praça com colunas independentes, fontes e estátuas. Um coliseu romano de cinco andares brilhava no sol, perto de uma longa arena oval como uma pista de corrida.
Do lado sul, outra colina estava dotada com mais prédios impressionantes – templos, Percy adivinhou. Várias pontes de pedra atravessavam o rio como se atravessassem o vale, e no norte uma longa linha de arcos estendidos nas colinas rumo à cidade. Percy achou que parecia um trilho de trem elevado. Então ele percebeu que devia ser um aqueduto.
A parte mais estranha do vale estava logo abaixo dele. A cerca de trezentos e vinte metros, do outro lado do rio, estava algum tipo de acampamento militar. Tinha cerca de um quilômetro quadrado, com muralhas térreas por todos os quatro lados, os topos alinhados com espigões afiados. Do lado de fora das paredes corria um fosso, também repleto de espigões. Torres de vigia de madeira ascendiam de cada canto, tripuladas por sentinelas com bestas8 enormes. Faixas roxas estavam penduradas nas torres.
Um portão aberto no lado distante do acampamento, levando na direção da cidade. Uma porta mais estreita estava fechada à margem do rio. Dentro, a fortaleza fervilhava de atividades: dúzias de crianças indo e voltando de quartéis, carregando armas, polindo armaduras. Percy ouviu o barulho de martelos na forja e cheiro de carne cozinhando na fogueira. Algo naquele lugar parecia muito familiar, mas nem tanto.


— Acampamento Júpiter. — Frank disse. — Estaremos a salvo
assim que...
Passos ecoaram no túnel atrás deles. Hazel saiu na luz. Ela estava coberta com poeira de pedra e ofegando. Ela tinha perdido o elmo, então seu cabelo encaracolado caía pelos ombros. Sua armadura tinha longas marcas de corte na frente pelas patas de uma górgona. Um dos monstros tinha marcado-a com uma etiqueta de 50% de desconto.
— Eu as atrasei um pouco, — ela disse. — Mas estarão aqui em segundos.
Frank amaldiçoou.
— Temos que atravessar o rio.
Juno apertou o pescoço de Percy com mais força. — Ah, sim obrigada. Não posso molhar meu vestido.
Percy mordeu sua língua. Se essa senhora era mesmo uma deusa, ela devia ser a deusa do mau cheiro, do peso ou dos hippies inúteis. Mas ele já tinha chego tão longe. Seria melhor mantê-la por perto.
É uma gentileza, ela havia dito. E se não fizer isso, os deuses morrerão, o mundo que conhecemos perecerá, e todos de sua antiga vida serão destruídos.
Se fosse um teste, ele não podia tirar um zero.
Cambaleou algumas vezes enquanto corria para o rio. Frank e Hazel o seguiram. Eles chegaram à margem do rio, e Percy parou para recuperar o fôlego. A correnteza era rápida, mas o rio não era muito profundo. Só uma rocha estava atravessando na direção dos portões da fortaleza.
— Vai, Hazel. — Frank tirou duas flechas de uma vez. — Escolte Percy para a entrada em segurança. É minha vez de segurar esses caras.
Hazel assentiu e foi para a margem. Percy começou a seguir, mas algo o fez hesitar. Geralmente ele adorava a água, mas esse rio parecia... Poderoso, e não necessariamente amigável.
— O Pequeno Tibre. — Disse Juno simpática. — Flui com o poder do Tibre original, rio do império. É sua última chance de voltar, criança. A marca de Aquiles é uma benção grega. Não pode contê-lo se entrar no
território romano. O Tibre vai lavá-lo.
Percy estava muito exausto para entender tudo aquilo, mas pegou o ponto principal.
— Se eu atravessar, não vou mais ter pele de ferro?
Juno sorriu. — Então o que vai ser? Segurança, ou um futuro de dor, possivelmente?
Atrás dele, as górgonas gritaram enquanto voavam do túnel. Frank deixou as flechas voarem.
Do meio do rio Hazel gritou:
— Percy, vem logo!
No topo das Torres de vigia, trompas soaram. As sentinelas tiraram e miraram os arcos na direção das górgonas. Annabeth, Percy pensou. Ele entrou no rio. Era gelado, muito mais que imaginava, mas não importava para ele. Uma nova força surgiu por seus membros. Seus sentidos formigaram como se tivesse sido injetada cafeína nele. Ele chegou ao outro lado e colocou a mulher no chão enquanto os portões do acampamento se abriam. Dúzias de crianças de armadura saíram. Hazel deu um sorriso aliviado. Então olhou por cima do ombro de Percy, e sua expressão mudou para horror.
— Frank!
Frank estava no meio do caminho pelo rio quando as górgonas o pegaram. Elas desceram do céu e o agarraram em cada braço. Ele gritou de dor enquanto as patas arranhavam sua pele. As sentinelas gritaram, mas Percy sabia que eles não podiam atirar livremente. Eles acabariam matando Frank. As outras crianças
desembainharam as espadas e estavam prontas para entrar na água, mas estavam atrasadas. Só havia um jeito.
Percy impulsionou as mãos. Uma sensação intensa e desagradável preencheu seu intestino, e o curso do rio Tibre obedeceu a seu comando. O rio se elevou de cada lado de Frank. Mãos gigantes de água surgiram do
córrego, copiando os movimentos de Percy. As mãos gigantes agarraram as górgonas, que derrubaram Frank, surpresas. Então as mãos levantaram os monstros que gritavam com seus punhos líquidos. Percy ouviu as outras crianças gritarem e recuarem, mas continuou focado em sua tarefa. Ele fez um gesto esmagador com seus pulsos, e as mãos gigantes afundaram as górgonas no Tibre. Os monstros chegaram ao fundo e viraram pó. Nuvens brilhantes da essência das górgonas lutavam para se refazer, mas o rio os
separou como um liquidificador. Logo, todo o traço das górgonas tinham descido rio abaixo. Os redemoinhos sumiram, e a correnteza voltou ao normal.
Percy ficou na margem. Suas roupas e pele soltavam vapor como se as águas do Tibre o tivessem dado um banho de ácido. Ele se sentiu exposto, sensível... Vulnerável.
No meio do Tibre, Frank tropeçou, parecendo aturdido, mas perfeitamente bem. Hazel nadou até ele e o ajudou a chegar até a margem.
Só então Percy percebeu que as outras crianças haviam ficado quietas. Todos estavam olhando para ele. Só a senhora, Juno, parecia não estar abalada.
— Bem, foi um passeio adorável. — Ela disse. — Obrigada, Percy Jackson, por me trazer ao Acampamento Júpiter.
Uma das garotas pareceu chocada.
— Percy... Jackson?
Soou como se ela reconhecesse seu nome. Percy focou nela, esperando ver um rosto familiar.
Ela era obviamente uma líder. Vestia um manto roxo majestoso debaixo da armadura. Seu busto estava decorado com medalhas. Devia ter a idade de Percy, com olhos escuros perfurantes. E cabelo preto longo. Percy não a reconheceu, mas a garota o encarou como se o tivesse visto em seus pesadelos.
Juno riu com prazer. — Ah, sim! Vocês vão se divertir muito juntos!
Então, só porque o dia já não tinha sido estranho o suficiente, a senhora começou a brilhar e mudar de forma. Ela cresceu até virar uma deusa de dois metros de altura em um vestido azul, com um manto que parecia pele de bode sobre seus ombros. Seu rosto era severo e espantoso. Em sua mão estava um cajado com uma flor de lótus no topo.
Se fosse possível os campistas parecerem mais pasmos, eles conseguiram. A garota de manto roxo se ajoelhou. Os outros seguiram a líder. Uma criança caiu tão rápido que quase se cortou com a espada.
Hazel foi a primeira a falar.
— Juno.
Ela e Frank também caíram de tornozelos, deixando Percy, o único de pé. Ele sabia que provavelmente devia se ajoelhar também, mas depois de ter carregado a senhora para tão longe, não sentiu que deveria dar-lhe muito respeito.
— Juno, hein? — ele disse. — Se passei no seu teste, posso ter minha memória e minha vida de volta?
A deusa sorriu.
— Na hora certa, Percy Jackson, se obter sucesso neste acampamento. Você foi bem hoje, o que é um bom começo. Talvez ainda haja esperança para você.
Ela se virou para as outras crianças.
— Romanos, apresento-lhes o filho de Netuno. Por meses ele esteve adormecido, mas agora está despertado. O destino dele está em suas mãos. A Roda da Fortuna se aproxima rapidamente, e a Morte deve ser libertada se quiserem ter qualquer esperança em batalha. Não falhem comigo!
Juno tremeluziu e desapareceu. Percy olhou para Hazel e Frank para algum tipo de explicação, mas eles pareciam tão confusos quanto ele. Frank estava segurando algo que Percy não havia notado antes - dois frasquinhos de argila com rolhas, como poções, um em cada mão. Percy não tinha ideia de onde vieram, mas viu Frank guardá-los no bolso. Frank deu um olhar a ele como Vamos falar sobre isso depois.
A garota de manto roxo deu um passo à frente. Ela examinou Percy cautelosamente e Percy não pôde afastar a impressão de que ela queria correr até ele e atravessá-lo com a adaga.
— Então, — disse friamente — um filho de Netuno, que veio até nós com a benção de Juno.
— Olha, — ele disse — minha memória está um pouco maluca. Hã, desapareceu na verdade. Eu te conheço?
A garota hesitou.
— Sou Reyna, pretora da Vigésima Legião. E não, eu não te conheço. Essa última parte era mentira. Percy podia dizer pelos olhos dela. Mas ele também entendeu que se discutisse com ela sobre isso ali, na frente dos soldados, ela poderia não gostar.

— Hazel, — disse Reyna — traga-o para dentro. Quero questioná-lo na principia. Então o mandaremos para Octavian. Devemos consultar os  agouros antes de decidir o que fazer com ele.

— O que quer dizer — Percy perguntou — com 'decidir o que fazer  
comigo'?

As mãos de Reyna tocaram a adaga. Obviamente ela não estava

acostumada a ter suas ordens questionadas.

— Antes de aceitar qualquer um no acampamento, devemos


interrogá-lo e ler os agouros. Juno disse que seu destino está em nossas  mãos. Temos que saber se Juno nos trouxe um novo recruta... — Reyna  
estudou Percy como se achasse um problema. 


Ou — ela disse mais 

esperançosamente — se nos trouxe um inimigo para matar.



Espero que tenham gostado amanha eu posto mais 2
                                           
                                                                                                                                               Tchal