sábado, 11 de fevereiro de 2012

3° e 4° cap de "o filho de Netuno"

oi pessoinhas aqui esta o 3° e o 4° cap de " O filho de Netuno".
Espero que gostem! não se esqueçam de mandar comentários.


         III Percy


PERCY NÃO TINHA MEDO DE FANTASMAS, o que era bom. Metade 
das pessoas no acampamento estavam mortas.


Guerreiros de roxo cintilante estavam parados do lado de fora do arsenal, polindo espadas fantasmagóricas. Outros andavam na frente do  quartel. Um menino fantasma perseguia um cachorro fantasma pela rua. E  nos estábulos, um cara grandalhão de brilho vermelho com cabeça de um  lobo cuidava de uma manada de… aquilo eram unicórnios?


Nenhum dos campistas prestava muita atenção nos fantasmas, mas enquanto a comitiva de Percy caminhava, com Reyna na liderança e Frank 
Hazel de cada lado, todos os espíritos pararam o que estavam fazendo e 

encararam Percy. Alguns pareceram zangados. O menininho fantasma gritou  
algo como greggus! e ficou invisível.


Percy também queria poder ficar invisível. Depois de algumas  semanas sozinho, toda aquela atenção o deixava apreensivo. Ele ficou entre  
Hazel e Frank e tentou parecer invisível.

— Estou vendo coisas? — Ele perguntou. — Ou eles são…
— Fantasmas? — Hazel se virou. Ela tinha olhos assustadores, como 
catorze quilates de ouro. — São lares. Deuses da casa.

— Deuses da casa. — Percy disse. — Tipo… Menores que os 
verdadeiros deuses, mas maiores que os deuses de apartamento?

— São espíritos ancestrais. — Frank explicou. Ele havia tirado seu 
elmo, revelando um rosto infantil que não combinava com o corte de cabelo 
militar ou seu corpo robusto. Ele parecia uma criança que tinha tomado 
esteróides e entrado para a Marinha. — Os lares são um tipo de mascotes. — 
Ele continuou. — Na maior parte do tempo eles são inofensivos, mas nunca 
os tinha visto tão agitados.

— Eles estão olhando para mim. — Percy disse. — Um fantasma 
criança me chamou de greggus. Meu nome não é Greg.

— Graecus. — Hazel disse. — Assim que se acostumar em estar 
aqui, vai começar a entender latim. Semideuses tem um talento natural para 
isso. Graecus significa grego.

— Isso é ruim? — Percy perguntou.
Frank limpou a garganta.
— Talvez não. Você tem esse tipo de aparência, o cabelo escuro e 
tudo. Talvez eles achem que na verdade você é grego. Sua família é de lá?

— Não faço ideia. Como eu disse, minha memória sumiu.
— Ou talvez… — Frank hesitou.
— O quê? — Percy perguntou.
— Acho que nada. — Frank disse. — Os romanos e gregos tinham 
uma antiga rivalidade. Às vezes romanos usam graecus como um insulto

para alguém estranho… Um inimigo. Não me preocuparia com isso.
Ele soou bem preocupado.
Eles pararam no meio do acampamento, onde duas ruas se uniam em 
um T. Uma placa rotulava uma rua como via praetoria. A outra rua, a
travessando o meio do acampamento, estava rotulada como via principalis.

Debaixo dos marcadores estavam placas pintadas à mão como BERKELEY 
A 8 QUILÔMETROS; NOVA ROMA A 1,6 QUILÔMETROS; ROMA 
ANTIGA A 11648 QUILÔMETROS; HADES A 3696 QUILÔMETROS 
(apontando diretamente para baixo); RENO A 332 QUILÔMETROS, E 
MORTE CERTA: VOCÊ ESTÁ AQUI!

Para uma morte certa, o lugar parecia bem limpo e ordenado. Os 
prédios eram caiados, arrumados com exagero como se o acampamento 
tivesse sido projetado por um professor de matemática espalhafatoso. Os 
quartéis tinham varandas sombrias, onde os campistas descansavam em 
redes, jogavam cartas e tomavam refrigerante. Cada dormitório tinha uma 
coleção diferente na frente mostrando algarismos romanos e vários animais 
— águia, urso, lobo, cavalo, e algo que parecia um hamster.

Junto da Via Praetoria, filas de lojas anunciavam comida, armadura, 
armas, café, equipamentos de gladiador e retalhos de toga. Uma 
concessionária de bigas tinha um grande anúncio na frente: CAESAR XLS 
COM FREIO AUTOMÁTICO, NENHUM DENÁRIO A MENOS!

Em um canto da calçada estava o prédio mais impressionante —
uma cunha de dois andares, feita de mármore branco, com pórticos de 
colunas, como um banco à moda antiga. Guardas romanos estavam em frente 
a ele. Em cima da porta, estava um cartaz grande e roxo com letras SPQR 
douradas bordadas dentro de uma coroa de louros.

— Seu quartel-general? — Percy perguntou.
Reyna olhou para ele, seus olhos ainda frios e hostis.
— É chamado de principia. — Ela examinou a plebe de campistas 
curiosos que os tinham seguido desde o rio. — Todos voltem às suas 
funções. Darei uma atualização à vocês na reunião de hoje à noite. Lembrese, 
teremos jogos de guerra depois do jantar.

O pensamento do jantar fez o estômago de Percy roncar. O aroma de 
churrasco do refeitório deu água na boca. A padaria no fim da rua também 
cheirava muito bem, mas ele duvidava que Reyna o liberasse para ir até lá.
A multidão se dispersou relutante. Alguns comentaram sobre as chances de Percy.

— Ele está morto. — Disse um.
— Devem ter sido aqueles dois que encontraram ele. — Disse outro.
— É. — Murmurou outro. — Deixe-o se juntar à Quinta Coorte.
Gregos e geeks.
Algumas crianças riram disso, mas Reyna fez uma careta para eles, que sumiram.
— Hazel. — Reyna disse. — Venha conosco. Quero seu relatório do que aconteceu nos portões.
— Eu também? — Frank disse. — Percy salvou minha vida. Temos que deixá-lo…
Reyna deu a Frank um olhar tão severo que ele deu um passo para trás.
— Devo te lembrar, Frank Zhang, — ela disse — que você está no próprio probatio. Você tem causado problemas o suficiente essa semana.

As orelhas de Frank ficaram vermelhas. Ele brincava com um pingente amarrado no pescoço. Percy não tinha prestado muita atenção naquilo, mas parecia um crachá feito de chumbo.
— Vá ao arsenal. Vou te chamar se precisar.
— Mas… — Frank parou. — Sim, Reyna.
Ele correu de Reyna, que apontou para Hazel e Percy na direção do quartel-general.
— Agora, Percy Jackson, vamos ver se podemos melhorar sua memória.
O principia era mais impressionante por dentro. No teto brilhava um mosaico de Rômulo e Remo debaixo de sua mãe loba adotada (Lupa havia contado essa história milhões de vezes para Percy). O chão era de mármore polido. As paredes estavam envoltas em veludo, então Percy se sentiu dentro da tenda de acampamento mais cara do mundo. Ao longo das paredes estava uma exposição de cartazes e varas de madeira cravadas com medalhas e bronze – símbolos militares, Percy adivinhou. No centro estava um mostruário vazio, como se o cartaz principal tivesse sido retirado para a limpeza ou algo do tipo.
No canto, uma escada levava para baixo. Estava bloqueada por uma fileira de barras de ferro como uma porta de prisão. Percy se perguntou o que havia lá em baixo – monstros? Tesouros? Semideuses amnésicos que tinham conhecido o lado mau de Reyna?
No centro da sala, uma longa mesa de madeira estava repleta de pergaminhos, notebooks, tablets, adagas, e uma tigela grande cheia de jujubas, que parecia estar fora do lugar. Duas estátuas de galgos em tamanho real – uma prata e uma dourada – ladeavam a mesa. Reyna foi para trás da mesa e se sentou em uma das duas cadeiras de encosto alto. Percy desejou poder sentar na outra, mas Hazel ficara de pé. Percy teve a sensação que ele também teria que ficar.
— Então… — ele começou a dizer.
As estátuas de cachorro arreganharam os dentes e rosnaram.
Percy franziu o cenho. Normalmente ele gostava de cachorros, mas aqueles o encaravam com olhos de rubi. Seus dentes pareciam tão afiados quanto navalhas.
— Quietos meninos. — Reyna disse aos galgos.
Eles pararam de rosnar, mas continuaram vendo Percy como se estivesse imaginando-o em um saco de ração.
— Eles não atacarão, — Reyna disse — a menos que você tente roubar alguma coisa, ou a menos que eu mande. Eles são Argentum e Aurum.
— Prata e Dourado. — Percy disse. Os significados em latim apareceram em sua cabeça, assim como Hazel havia dito que aconteceria.
Ele quase perguntou qual era qual. Então percebeu que era uma pergunta idiota.
Reyna colocou sua adaga na mesa. Percy teve a vaga sensação que eles já haviam se visto antes. Seu cabelo era preto e liso como uma pedra vulcânica, trançado nas costas. Ela tinha a pose de um espadachim – relaxada, mas ainda assim vigilante, como se pronta para entrar em ação a qualquer momento. As linhas de preocupação ao redor dos olhos a faziam parecer mais velha do que provavelmente era.
— Devemos nos conhecer. — ele decidiu. — Não lembro quando. Por favor, se puder me contar qualquer coisa…
— As coisas mais importantes primeiro. — Reyna disse. — Quero ouvir sua história. Do que você lembra? Como chegou aqui? E não minta. Meus cachorros não gostam de mentirosos.
Argentum e Aurum rosnaram para enfatizar o ponto.
Percy contou sua história – como ele havia acordado na mansão em ruínas nas florestas de Sonoma. Ele descreveu o tempo com Lupa e sua matilha, aprendendo a linguagem de gestos e expressões, aprendendo a sobreviver e a lutar.
Lupa o ensinou sobre os semideuses, monstros e deuses. Ela tinha explicado que ela era uma dos espíritos guardiões da Roma Antiga.
Semideuses como Percy ainda eram responsáveis por continuar as tradições romanas nos tempos modernos – lutar com monstros, servir aos deuses, proteger mortais, e sustentar a memória do império. Ela tinha perdido semanas treinando-o, até ele estar tão forte, resistente e perverso quanto um lobo. Quando ela ficou satisfeita com suas habilidades, mandou-o para o sul, dizendo que se sobrevivesse na jornada, deveria encontrar uma nova casa e recuperar sua memória.
Nada pareceu surpreender Reyna. De fato, ela pareceu achar isso bem comum – exceto por uma coisa.
— Nenhuma memória? — ela perguntou. — Você não se lembra de nada ainda?
— Partes vagas e peças soltas. — Percy olhou para os galgos. Ele não quis mencionar Annabeth. Pareceu muito particular, e ele ainda estava confuso sobre onde encontrá-la. Ele tinha certeza que eles tinham se conhecido em um acampamento – mas esse não parecia ser o lugar certo.
Além disso, ele ficou relutante em compartilhar sua única memória clara: o rosto de Annabeth, o cabelo loiro e os olhos cinzentos, o jeito que ela ria, atirando seus braços ao redor dele, e dando um beijo nele sempre que fazia algo estúpido.
Ela deve ter me beijado muito, Percy pensou.
Ele temia que se falasse sobre essa memória para alguém, ela evaporaria como um sonho. Ele não podia arriscar.
Reyna girou a adaga.
— A maior parte do que descreveu é normal para semideuses. Até certa idade, de um jeito ou de outro, encontramos o caminho para a Casa dos Lobos. Somos testados e treinados. Se Lupa achar que somos dignos, nos manda para o sul para entrar para a legião. Mas nunca tinha ouvido falar de alguém que perdeu a memória. Como encontrou o Acampamento Júpiter?
Percy contou a ela sobre seus três últimos dias – as górgonas que não morreriam, a senhora que virou uma deusa, e finalmente quando conheceu Hazel e Frank no túnel da colina.
Hazel continuou a história dali. Ela descreveu Percy como corajoso e heróico, o que o deixou desconfortável. Tudo o que ele havia feito tinha sido carregar uma senhora hippie.
Reyna o estudou. — Você é velho para um recruta. Tem o quê, dezesseis?
— Por aí — Percy respondeu.
— Se você perdeu tantos anos sozinho, sem treino ou ajuda, devia estar morto. Um filho de Netuno? Você deveria ter uma aura poderosa que atrairia todos os tipos de monstros.
— É. — Percy disse. — Fui avisado sobre esse cheiro.
Reyna quase sorriu para ele, o que deu esperança a Percy. Talvez ela fosse humana, afinal de contas.
— Você deve ter ficado em algum lugar antes da Casa dos Lobos. — Ela disse.
Percy encolheu os ombros. Juno havia dito alguma coisa sobre ele estar adormecido, e ele tinha uma sensação vaga que ele tinha ficado mesmo – talvez por um bom tempo. Mas isso não fazia sentido.
Reyna suspirou.
— Bem, os cachorros não te comeram, então acho que está falando a verdade.
— Ótimo. — Percy disse. — Da próxima vez, posso passar pelo polígrafo?
Reyna se levantou. Ela passeou na frente dos cartazes. Seus cachorros de metal a viam ir e voltar.
— Mesmo se eu aceitar que você não é um inimigo. — Ela disse. — Você não é um recruta comum. A Rainha do Olimpo simplesmente não aparece no acampamento, anunciando um novo semideus. Da última vez que um deus maior nos visitou em pessoa foi… — Ela balançou a cabeça. — Só ouvi lendas sobre essas coisas. E um filho de Netuno… não é um bom presságio. Especialmente agora.
— O que há de errado com Netuno? — Percy perguntou. — E o que quer dizer com especialmente agora?
Hazel deu a ele um olhar de aviso.
Reyna continuou passeando.
— Você lutou com as irmãs da Medusa, que não tem sido vistas há milhares de anos. Você agitou nossos Lares, que estão te chamando de graecus. Você veste símbolos estranhos – essa camisa, as contas no seu pescoço. O que querem dizer?
Percy olhou para sua camiseta laranja esfarrapada. Devia ter tido palavras alguma vez, mas estavam muito desbotadas para ler. Ele deveria ter jogado a camisa fora algumas semanas atrás. Estava em pedaços, mas não conseguia suportar a idéia de se livrar disso. Só ficou lavando-a em córregos e fontes de água da melhor maneira que conseguia e a colocando de volta.
Quanto ao colar, cada uma das quatro contas de argila estava decorada com um símbolo diferente. Uma mostrava um tridente. Outra era uma miniatura do Velocino de Ouro. A terceira estava gravada com o desenho de um labirinto, e a última tinha a imagem de um prédio – talvez o Empire State Building? – com nomes gravados ao redor que Percy não reconheceu. As contas pareciam importantes, como fotos de um álbum de família, mas ele não conseguiu se lembrar do que significavam.
— Não sei. — Ele disse.
— E sua espada? — Reyna perguntou.
Percy checou o bolso. A caneta havia reaparecido como sempre. Ele pegou-a, mas então percebeu que nunca tinha mostrado a espada para Reyna. Nem mesmo Hazel e Frank a tinham visto. Como Reyna sabia sobre ela?
Tarde demais para fingir que ela não existia… ele destampou a caneta. Contracorrente apareceu inteira. Hazel ofegou. Os galgos rosnaram apreensivamente.
— O que é isso? — Hazel perguntou. — Nunca tinha visto uma
espada assim.
— Eu já. — Reyna disse sombriamente. — É muito antiga… um modelo grego. Costumávamos ter algumas no arsenal antes de… — Ela parou. — O metal é chamado bronze celestial. É mortal para monstros, como o ouro imperial, mas muito raro.
— Ouro imperial? — Percy perguntou.
Reyna desembainhou a adaga. Com certeza a lâmina era de ouro. 
— O metal foi consagrado nos tempos antigos, no Panteão de Roma. Sua existência era rigorosamente guardada em segredo dos imperadores – um jeito de seus campeões matarem monstros que ameaçavam o império. Costumávamos ter mais armas como essa, mas agora… bem, nós as riscamos da lista. Eu uso essa adaga. Hazel tem uma spatha, uma espada de cavalgaria. Mas essa sua arma não é romana, de qualquer modo. É outro sinal que você não é um semideus comum. E seu braço…
— O que tem? — Percy perguntou.
Reyna ergueu seu próprio antebraço. Percy não tinha notado antes, mas ela tinha uma tatuagem: as letras SPQR, espadas cruzadas e uma tocha, e debaixo disso, quatro linhas paralelas como códigos de barra.
Percy olhou para Hazel.
— Todos a temos. — Ela confirmou, erguendo seu braço. — Todos os membros completos da legião têm.
A tatuagem de Hazel também tinha as letras SPQR, Mas ela só tinha um código de barra, e seu emblema era diferente: um grifo preto como uma cruz com os braços curvos e uma cabeça:
                                   
Percy olhou para seus próprios braços. Alguns arranhões, lama, e uma mancha de Crispy Cheese ‘n’ Wiener, mas sem tatuagens.
— Então você nunca foi um membro da legião. — Reyna disse. — Essas marcas não podem ser tiradas. Acho que talvez… — Ela balançou a cabeça, como se estivesse descartando uma idéia.
Hazel deu um passo à frente.
— Se ele sobreviveu sozinho todo esse tempo, talvez tenha visto Jason. — Ela se virou para Percy. — Você nunca viu um semideus como nós antes? Um cara de camisa roxa, com marcas no braço…
— Hazel. — A voz de Reyna era firme. — Percy já tem o bastante com que se preocupar.
Percy tocou a ponta de sua espada, e Contracorrente voltou para a forma de caneta.
— Nunca vi ninguém como vocês antes. Quem é Jason?
Reyna deu um olhar irritado para Hazel.
— Ele é… era meu colega. — Ela apontou para a segunda cadeira vazia. — A legião normalmente tem dois pretores12 eleitos. Jason Grace, filho de Júpiter, era nosso outro pretor até desaparecer em Outubro.
Percy tentou calcular. Ele não prestou muita atenção no calendário no deserto, mas Juno tinha mencionado que agora era Junho.
— Quer dizer que ele já se foi há oito meses, e vocês não o encontraram?
— Ele pode não estar morto. — Hazel disse. — Não vamos desistir.
Reyna fez uma careta. Percy teve a impressão que esse Jason devia ser mais que só um colega.
— As eleições só acontecem de duas maneiras. — Reyna disse. — Ou a legião coloca alguém como um escudo depois de uma grande batalha – e não tivemos nenhuma grande batalha – ou temos uma votação na noite de
24 de Junho, na Festa da Fortuna. Que será em cinco dias.
Percy franziu o cenho.
— Vocês têm uma festa para tuna? (tuna é atum em inglês)
— Fortuna. — Hazel corrigiu. — Ela é a deusa da sorte. O que quer que aconteça no dia da festa pode afetar o resto do ano. Ela pode conceder ao acampamento boa sorte… ou muita má sorte.
Reyna e Hazel olharam para a cadeira vazia, como se estivessem pensando no que estava faltando.
Um arrepio trouxe Percy de volta.
— Uma Festa da Fortuna… As górgonas falaram disso. E depois Juno. Eles disseram que o acampamento seria atacado nesse dia, alguma coisa de uma deusa malvadona chamada Gaia, e um exército, e a Morte sendo libertada. Está me dizendo que esse dia é nessa semana?
Os dedos de Reyna apertaram o punho da adaga.
— Você não vai falar nada sobre isso fora desta sala. — Ela ordenou. — Não quero você espalhando mais pânico nesse acampamento.
— Então é verdade. — Percy disse. — Sabe o que vai acontecer? Podemos parar isso?
Percy tinha acabado de conhecer aquelas pessoas. Ele nem tinha certeza se gostava de Reyna. Mas queria ajudar. Eles eram semideuses, o mesmo que ele. Tinham os mesmos inimigos. Além disso, Percy se lembrou do que Juno tinha dito a ele: não era só o acampamento que estava em risco. 
Sua antiga vida, os deuses, e o mundo inteiro seriam destruídos. O que quer que esteja vindo, era enorme.
— Já conversamos o suficiente por enquanto. — Reyna disse. — Hazel, leve-o ao Templo do Morro. Encontre Octavian. No caminho pode responder as perguntas de Percy. Fale sobre a legião para ele. 
— Sim, Reyna.
Percy ainda tinha muitas perguntas, parecia que seu cérebro iria derreter. Mas Reyna deixou bem claro que a audiência havia acabado. Ela embainhou a adaga. Os cachorros de metal se levantaram e rosnaram, avançando lentamente na direção de Percy.
— Boa sorte com o agouro, Percy Jackson. — ela disse. — Se 
Octavian te deixar viver, talvez possamos comparar as notas… sobre seu 
passado.

          
         IV Percy

NO CAMINHO PARA FORA DO ACAMPAMENTO, Hazel comprou um café expresso e um bolinho de cereja de Bombilo, o vendedor de café de duas cabeças.
Percy devorou o bolinho. O café estava ótimo. Agora, Percy pensou, se ele pudesse tomar um banho, trocar de roupa e dormir um pouco, ele estaria ouro. Talvez até ouro imperial.
Ele viu um grupo de crianças de trajes de banho e toalhas na cabeça em um prédio que tinha vapor saindo de uma carreira de chaminés. Risos e sons de água ecoavam de dentro, como uma piscina interna — o tipo de lugar que Percy adorava.
— Casa de Banho — Hazel disse. — Vamos te levar para lá depois do jantar, espero. Você não viveu até ter tido um banho romano.
Percy suspirou exasperado.
Enquanto se aproximavam do portão da frente, os quartéis ficavam maiores e mais bonitos. Até os fantasmas pareciam melhores — com armaduras mais extravagantes e auras mais brilhantes. Percy tentou decifrar os símbolos nos cartazes suspensos nas frentes dos prédios.
— Vocês são divididos em chalés diferentes? — ele perguntou.
— Mais ou menos — Hazel se abaixou como uma criança montada em uma águia gigante mergulhando. —Temos cinco Coortes de quarenta crianças cada. Cada Coorte é dividida em quartéis de dez — como, tipo colegas de quarto.
Percy nunca foi bom em matemática, mas tentou multiplicar.
— Está me dizendo que tem duzentas crianças nesse acampamento?
— Por aí.
— E todas elas são filhas de deuses? Os deuses têm ficado ocupados. 
Hazel riu.
— Nem todas elas são filhas de deuses maiores. Centenas são de deuses romanos menores. Além disso, muitos dos campistas são legados — segunda ou terceira geração. Talvez seus pais tenham sido semideuses. Ou seus avós.
Percy piscou.
— Filhos de semideuses?
— Por quê? Isso te deixa surpreso?
Percy não tinha certeza. Nas últimas semanas ele esteve tão preocupado com sobreviver dia a dia. A ideia de viver o bastante para ser um adulto e ter filhos — isso parecia um sonho impossível.
— Esses legad...
— Legados — Hazel corrigiu.
— Eles têm poderes como um semideus?
— Ás vezes sim. Ás vezes não. Mas podem ser treinados. Os maiores generais e imperadores romanos — sabe, todos eles foram reclamados como descendentes dos deuses. Na maior parte do tempo estavam falando a verdade. O adivinho do acampamento que vamos conhecer, Octavian, é um legado, descendente de Apolo. Ele tem o dom da profecia, supostamente.
— Supostamente?
Hazel fez uma cara azeda.
— Você verá.
Isso não fez Percy se sentir melhor, se esse Octavian tinha o destino de Percy nas mãos.
— Então, essas divisões — ele perguntou — as Coortes, sei lá o quê... vocês foram divididos de acordo com seu parentesco divino?
Hazel o encarou.
— Que ideia terrível! Não, os oficiais decidem onde colocar os recrutas. Se fossemos divididos de acordo com o deus, as Coortes seriam todas desiguais. Eu ficaria sozinha.
Percy sentiu uma pontada de tristeza, como se ele estivesse nessa situação.
— Por quê? Qual é seu ancestral?
Antes de poder responder, alguém atrás deles gritou:
— Espere!
Um fantasma correu na direção dela — um senhor com um medicamento no estômago e uma toga tão longa que ficava tropeçando nela.
Ele os alcançou e recuperou o fôlego, sua aura roxa tremendo a seu redor.
— É ele? — o fantasma apontou. — Um novo recruta para a Quinta, talvez?
— Vitellius — Hazel disse — estamos meio com pressa.
O fantasma fez uma careta para Percy e caminhou ao redor dele, inspecionando-o como um carro usado.
— Não sei — ele grunhiu. — Só precisamos do melhor para a Coorte. Ele tem todos os dentes? Consegue lutar? Ele limpa os estábulos?
— Sim, sim e não — Percy disse. — Quem é você?
— Percy, esse é Vitellius — a expressão de Hazel disse: Somente faça a vontade dele. — Ele é um de nossos lares, tem um interesse em novos recrutas.
Na varanda próxima, outros fantasmas riram enquanto Vitellius ia e vinha, tropeçava na toga e passava por cima do cinto da espada.
— É — Vitellius disse — nos dias de César — Júlio César, lembre se — a Quinta Coorte tinha alguma coisa! Vigésima Legião Fulminata, orgulho de Roma! Mas nesses dias? A vergonha veio a nós. Olhe para Hazel, usando uma spatha. Arma ridícula para uma legionária romana — é para cavalaria! E você, garoto — você cheira como um cano de esgoto grego. Não tem tomado banho?
— Estive meio ocupado lutando com górgonas — Percy disse.
— Vitellius — Hazel interrompeu — temos que ler os agouros de Percy antes de ele poder entrar. Por que não vai ver Frank? Ele está no arsenal checando o inventário. Sabe quanto ele valoriza sua ajuda.
As sobrancelhas peludas e roxas do fantasma se ergueram.
— Marte Todo-Poderoso! Eles deixaram o probatio checar o armamento? Seremos arruinados!
Ele saiu cambaleando pela rua, parando sempre a alguns metros para pegar sua espada ou arrumar sua toga.
— Ceeeeerto — Percy disse.
— Desculpe — Hazel disse. — Ele é excêntrico, mas é um dos lares mais velhos. Está por aqui desde que a legião foi fundada.
— Ele chamou a legião de... Fulminata? — Percy disse.
— Armada do Relâmpago — Hazel traduziu. — É nosso lema. A Vigésima Legião participou do Império Romano inteiro. Quando Roma caiu, várias legiões desapareceram. Fomos para o subterrâneo, agindo sob ordens secretas do próprio Júpiter: ainda vivo, recrutando semideuses e seus filhos, mantendo Roma. E foi assim desde então, se mudando para onde quer que a influência romana estivesse mais forte. Nos últimos séculos, estivemos na América.
Mesmo soando bizarro, Percy não teve problemas em acreditar. De fato, soou familiar, como algo que ele sempre soube.
— E você é da Quinta Coorte — ele adivinhou, — que talvez não seja a mais popular?
Hazel fez uma careta.
— É. Entrei em Setembro.
— Então... algumas semanas antes desse Jason desaparecer.
Percy sabia que tinha acertado o ponto sensível. Hazel olhou para baixo. Ela ficou em silêncio o bastante para contar cada pedra do pavimento.
— Vamos lá — ela disse finalmente. — Vou te mostrar minha vista favorita.
Eles pararam do lado de fora das portas principais. A fortaleza estava localizada no ponto mais alto do vale, então podiam ver tudo muito bem.
A rua levava para o rio e se dividia. Uma levava para o sul atravessando uma ponte que levava à colina com todos os templos. A outra levava ao norte para uma cidade em versão miniatura da Roma Antiga.
Diferente do acampamento militar, a cidade parecia caótica e colorida, com prédios abarrotados de ângulos casuais. Mesmo daquela distância Percy podia ver as pessoas reunidas na praça, compradores circulando pelo mercado ao ar livre, pais com crianças nos parques.
— Vocês têm famílias aqui? — ele perguntou.
— Na cidade, é claro que sim — Hazel disse. — Quando se é aceito na legião, você tem dez anos de serviço para prestar. Depois disso, você pode ir para onde quiser. A maioria dos semideuses vai para o mundo mortal. Mas para alguns — bem, é muito perigoso sair daqui. O vale é um santuário. Você pode ir ao colégio na cidade, se casar, ter filhos, se aposentar quando ficar velho. É o único lugar seguro na Terra para pessoas como nós.
Então, é, vários veteranos fazem suas casas ali, sob proteção da legião.
Semideuses adultos. Semideuses que podem viver sem medo, se casar, montar uma família. A mente de Percy não conseguia acreditar nisso. 
Parecia bom demais pra ser verdade.
— Mas e se o vale for atacado?
Hazel apertou os lábios.
— Temos defesas. As fronteiras são mágicas. Mas nossa força não é o que costumava ser. Recentemente, os ataques de monstros vêm aumentando. O que você disse sobre as górgonas não morrerem... percebemos isso também, com outros monstros.
— Sabe o que está causando isso?
Hazel olhou ao longe. Percy sabia que ela estava escondendo algo — algo que não era para ela dizer.
— É... é complicado — ela disse. — Meu irmão disse que a Morte não é...
Ela foi interrompida por um elefante.
Alguém atrás dele gritou:
— Abram caminho!
Hazel arrastou Percy para fora da estrada enquanto um semideus passava montado em um paquiderme adulto coberto em armadura Kevlar preta. A palavra elefante estava gravada do lado da armadura, o que parecia meio óbvio para Percy.
O elefante estrondeou na estrada e se virou para o norte, indo em direção a um grande campo aberto onde algumas fortificações estavam sob construção.
Percy cuspiu o pó da boca.
— O que o...?
— Elefante — Hazel explicou.
— É, eu li a placa. Por que vocês têm um elefante em um colete à prova de balas?
— Jogos de guerra hoje à noite — Hazel disse. — Esse é Hannibal. Se não o incluir, ele fica triste.
— O que não podemos permitir.
Hazel riu. Era difícil acreditar que ela estava tão melancólica há pouco tempo atrás. Percy se perguntou sobre o quê ela estava prestes a falar.
Ela tinha um irmão. Mesmo assim ela havia dito que estaria sozinha se o campamento a classificasse por seu parente divino. Percy não conseguia imaginar. Ela parecia uma pessoa boa e legal, madura para alguém que não podia ter mais que treze anos. Mas ela também parecia estar escondendo uma tristeza profunda, como se sentisse culpada por alguma coisa.
Hazel apontou para o sul, do outro lado do rio. Nuvens escuras estavam se juntando no Templo da Colina. Clarões vermelhos de relâmpago lavavam os monumentos em luz cor de sangue.
— Octavian está ocupado — Hazel disse. — É melhor chegarmos lá.
No caminho eles passaram por alguns caras com pernas de bode perambulando do lado da estrada.
— Hazel! — um deles gritou.
Ele trotou com um sorriso largo no rosto. Vestia uma camisa havaiana desbotada e nada de calças exceto o pelo amarronzado de bode.
Seu enorme cabelo afro balançava. Seus olhos estavam escondidos por baixo dos óculos cor de arco-íris. Ele segurava um cartaz de papelão que dizia VOU TRABALHAR CAMINHANDO E CANTANDO embora por denários.
— Oi, Don — Hazel disse. — Desculpa, não temos tempo...
— Ah, que legal! Que legal! — Don trotou junto deles. — Ei, esse cara é novato! — Ele apontou para Percy. — Você tem três denários para o ônibus? Porque deixei minha carteira em casa, e tenho que trabalhar, e...
— Don — Hazel censurou. — Faunos não têm carteiras. Ou trabalhos. Ou casas. E nós não temos ônibus.
— Tá legal — ele disse alegremente — mas você tem denários?
— Seu nome é Don, o Fauno? — Percy perguntou.
— É. Então?
— Nada — Percy tentou manter a cara de sério. — Por que faunos não têm trabalho Eles não deviam trabalhar para o acampamento?
Don bufou.
— Faunos! Trabalharem para o acampamento! Hilário!
— Faunos são, hm, espíritos livres — Hazel explicou. — Eles aparecem por aqui porque, bem, é um lugar seguro para aparecer e mendigar.
— Ah, a Hazel é incrível! — Don disse. — Ela é tão legal! Todos os outros campistas são tipo, ‘vá embora, Don’. Mas ela é tipo ‘por favor vá embora, Don’. Eu adoro ela!
O fauno pareceu contente, mas Percy ainda o achava fora de lugar.
Não pôde tirar a impressão de que faunos deviam ser mais que mendigos pedindo denários.
Don olhou para o chão na frente deles e engasgou. — Ahá!
Ele estendeu a mão para alguma coisa, mas Hazel gritou:
— Don, não!
Ela o tirou do caminho e pegou um pequeno objeto reluzente. Percy o viu de relance antes de Hazel o jogar no bolso. Ele podia jurar que era um diamante.
— Qual é, Hazel — Don reclamou. — Eu poderia comprar rosquinhas por um ano com isso!
— Don, por favor — Hazel disse. — Vá embora.
Ela soou abalada, como se tivesse acabado de salvar Don do peso de um elefante à prova de balas.
O fauno suspirou.
— Ah, não consigo ficar bravo com você. Mas eu juro, é como se você desse boa sorte. Toda vez que você caminha por...
— Até logo, Don — Hazel disse rapidamente. — Vamos, Percy.
Ela começou a correr. Percy teve de correr para acompanhá-la.
— O que foi aquilo? — Percy perguntou. — O diamante na estrada...
— Por favor — ela disse. — Não pergunte.
Eles andaram em silêncio pelo resto do caminho para o Templo da Colina. Um caminho de pedra torto levava a uma variedade maluca de pequenos altares e grandes abóbadas. As estátuas dos deuses pareciam seguir Percy com os olhos. Hazel apontou para o Templo de Belona.
— Deusa da guerra — ela disse. — É a mãe de Reyna.
Então eles passaram por uma cripta vermelha maciça decorada com caveiras humanas e estacas de ferro.
— Por favor, não me diga que vamos entrar aí — Percy disse.
Hazel balançou a cabeça.
— Esse é o Templo de Marte Ultor.
— Marte... Ares, o deus da guerra?
— Esse é seu nome grego — Hazel disse. — Mas é, o mesmo cara.
Ultor significa o Vingador. Ele é o segundo deus mais importante de Roma.
Percy não ficou empolgado em ouvir isso. Por alguma razão, só de olhar para aquele prédio vermelho feio o fazia ficar furioso.
Ele apontou para o topo. Nuvens giravam em volta do templo maior, um pavilhão redondo com um anel de colunas brancas suportando um telhado.
— Esse deve ser de Zeus — hã, quer dizer, de Júpiter? É para onde estamos indo?
— É — Hazel soou irritada. — Octavian lê os agouros ali — o Templo de Júpiter, o Optimus Maximus.
Percy teve que pensar nisso, mas as palavras em latim trincaram no inglês.
— Júpiter... o melhor e maior?
— Certo.
— Qual o título de Netuno? — Percy perguntou. — O mais legal e mais incrível?
— Hã, nem tanto — Hazel apontou para um prediozinho azul do tamanho de um barracão de ferramentas. Um tridente coberto de teia de aranha pendia acima da porta.
Percy espiou lá dentro. Em um pequeno altar estava uma tigela com três maçãs secas mofadas.
Seu coração afundou.
— Lugar popular.
— Me desculpe, Percy — Hazel disse — É que... os romanos sempre tiveram medo do mar. Só usavam navios quando precisavam mesmo.
Mesmo nos tempos modernos, ter um filho de Netuno por aí quase sempre era um au presságio. Na última vez que um se juntou à legião... bem isso foi em 1906 quando o Acampamento Júpiter era localizado do outro lado da Baía de São Francisco. Houve esse enorme terremoto...
— Está me dizendo que um filho de Netuno causou isso?
— É o que dizem — Hazel olhou se desculpando. — De qualquer jeito... Os romanos respeitam Netuno, mas não o adoram tanto.
Percy olhou para as teias no tridente. Ótimo, ele pensou. Mesmo se ele entrasse para o acampamento, ele nunca seria amado. A melhor esperança era assustar seus novos colegas de acampamento. Talvez se ele assustasse bem, eles o dessem algumas maçãs mofadas.
Mesmo assim... de pé no altar de Netuno, ele sentiu alguma coisa agitando dentro dele, como ondas ondulando por suas veias. Ele tirou o último pedaço de comida de seu passeio da mochila — uma rosquinha velha.
Não era muito, mas colocou-a no altar.
— Ei... hã, pai — ele se sentiu bem idiota falando com uma tigela de frutas. — Se puder me ouvir, me ajuda, está bem? Devolva minha memória. Me diga... me diga o que fazer.
Sua voz vacilou. Ele não queria ser emocional, mas estava exausto e assustado, e esteve perdido por tanto tempo, ele daria qualquer coisa para alguma orientação, Ele queria saber algo sobre sua vida, sem agarrar memórias ausentes.
Hazel colocou a mão em seu ombro.
— Vai ficar tudo bem. Está aqui agora. Você é um de nós.
Ele se sentiu estranho, dependendo de uma garota da oitava série que ele mal conhecia para se consolar, mas estava feliz que ela estivesse ali.
Acima deles, um trovão retumbou. Uma luz avermelhada preencheu a colina.
— Octavian está quase acabando — Hazel disse. — Vamos lá.
Comparado ao galpão de ferramentas de Netuno, o templo de Júpiter era definitivamente optimus e maximus.
O chão de mármore estava repleto de mosaicos extravagantes e inscrições em latim. Cento e dez metros acima, o teto de ouro brilhava. O templo inteiro era ao ar livre. No centro ficava um altar de mármore, onde um garoto em uma toga estava fazendo algum tipo de ritual na frente de uma estátua gigante do próprio grandalhão: Júpiter, o deus do céu, vestido em uma toga púrpura tamanho XXXL, segurando um raio.
— Não parece ele — Percy murmurou.
— O quê? — Hazel perguntou.
— O raio-mestre — Percy disse.
— Do que você tá falando?
— Eu... — Percy franziu o cenho. Por um segundo achou ter lembrado de alguma coisa. Depois se foi. — Nada, eu acho.
O garoto no altar ergueu os braços. Mais luz avermelhada iluminou o céu, sacudindo o templo. Então abaixou os braços, e as trovoadas pararam.
As nuvens viraram de cinza para branco e se desfizeram.
Um truque muito impressionante, considerando que o garoto não parecia tão impressionante. Ele era alto e magro, com cabelo cor de palha, jeans maior que o tamanho, uma camiseta larga e toga caindo. Ele parecia um espantalho vestindo um lençol.
— O que ele está fazendo? — Percy murmurou.
O cara na toga se virou. Ele tinha um sorriso torto e um brilho maluco nos olhos, como se estivesse jogando videogame intensamente. Em uma mão segurava uma faca. Na outra alguma coisa parecida com um animal morto. O que não o fazia parecer menos maluco.
— Percy — Hazel disse. — esse é Octavian.
— O graecus! — Octavian anunciou. — Que interessante.
— Hã, oi — Percy disse. — Você está matando animaizinhos?
Octavian olhou para a coisa fuzilada na mão e riu. 
— Não, não. Nos tempos antigos, sim. Costumávamos ler a vontade dos deuses examinando as tripas do animal — galinhas, bodes, esse tipo de coisa. Hoje em dia, usamos isso.
Ele passou a coisa mutilada para Percy. Era um ursinho de pelúcia destripado. Então Percy notou que havia uma pilha de animais de pelúcia mutilados no pé da estátua de Júpiter.
— Sério? — Percy perguntou.
Octavian desceu da plataforma. Ele provavelmente tinha dezoito anos, mas tão magro e doentiamente pálido, poderia se passar por mais novo. 
Primeiro ele pareceu inofensivo, mas quando chegou mais perto, Percy não teve tanta certeza. Os olhos de Octavian brilhavam com uma curiosidade chocante, como se devesse destripar Percy tão facilmente quanto um ursinho e se aprenderia algo com isso.
Octavian estreitou os olhos.
— Você parece nervoso.
— Você me lembra alguém — Percy disse. — Não lembro quem.
— Provavelmente meu homônimo, Octavian — Augusto César. Todos dizem que tenho uma notável semelhança.
Percy não achava que fosse isso, mas não pôde fechar a memória.
— Você me chamou de o grego?
— Vi isso nos agouros. — Octavian apontou a faca para a pilha de estofados no altar. — A mensagem dizia O grego voltou. Ou provavelmente o ganso chorou. Acho que a primeira interpretação é a correta. Quer entrar na legião?
Hazel falou por ele. Ela disse a Octavian tudo o que tinha acontecido desde quando se conheceram no túnel — as górgonas, a luta no rio, o aparecimento de Juno, a onversa com Reyna.
Quando ela mencionou Juno, Octavian pareceu surpreso.
— Juno — ele refletiu. — A chamamos de Juno Moneta. Juno a Informadora. Ela aparece em tempos de crise, para aconselhar Roma sobre grandes ameaças.
Ele olhou para Percy, como se dissesse: como gregos misteriosos, por exemplo.
— Ouvi que a Festa da Fortuna é nessa semana — Percy disse. — As górgonas avisaram que haveria uma invasão nesse dia. Você viu isso no seu estofamento?
— Infelizmente não. — Octavian suspirou. — A vontade dos deuses está difícil de discernir. E nesses dias, minha visão está realmente escura.
— Vocês não têm... sei lá — Percy disse — um oráculo ou algo do tipo?
— Um oráculo! — Octavian sorriu. — Que ideia fofinha. Não, receio que estamos com oráculos em falta. Agora, se formos questionar os livros sibilinos, como recomendei...
— Os livros sibioquê? — Percy perguntou.
— Livros de profecia — Hazel disse — que Octavian é obcecado. Os romanos costumavam consultá-los quando desastres aconteciam. A maioria acredita que eles foram queimados quando Roma caiu.
— Alguns acreditam nisso — Octavian corrigiu. — Infelizmente nossa liderança atual não vai autorizar uma busca para procurar por eles...
— Porque Reyna não é idiota — Hazel disse.
— ...então só temos alguns trechos que restaram dos livros — Octavian continuou. — Algumas predições misteriosas, como essa.
Ele apontou com o queixo para as inscrições no chão de mármore.
Percy encarou as linhas de palavras, esperando não entendê-las. Ele quase ficou chocado.
— Essa. — Ele apontou, traduzindo enquanto lia em voz alta: Sete meios-sangues responderão ao chamado. Em tempestade ou fogo, o mundo terá acabado...
— É, É. — Octavian terminou sem olhar: Um juramento a manter com um alento final,
E inimigos com armas às Portas da Morte afinal.
— Eu... eu conheço essa. — Percy pensou que o trovão estava sacudindo o templo de novo. Então percebeu que seu corpo inteiro estava tremendo. — É importante.
Octavian arqueou a sobrancelha.
— Claro que é importante. Nós a chamamos de Profecia dos Sete, mas tem milhares de anos. Não sabemos o que significa. Toda vez que alguém tenta interpretá-la... Bem, Hazel pode te contar. Coisas ruins acontecem.
Hazel olhou para ele.
— Só leia o agouro para Percy. Ele pode entrar para a legião ou não?
Percy quase podia ver a mente de Octavian trabalhando, calculando ou não se Percy seria útil. Ele ergueu a mão para a mochila de Percy.
— Que espécime bonito. Posso?
Percy não entendeu o que ele quis dizer, mas Octavian arrancou o travesseiro de panda do Bargain Mart que estava no topo da bolsa. Ele tinha uma bela afeição por ele. Octavian se virou na direção do altar e ergueu a faca.
— Ei! — Percy protestou.
Octavian cortou a barriga do panda e derramou a espuma no altar.
Ele atirou a carcaça do panda para o lado, murmurou algumas palavras sobre a espuma e se virou com um grande sorriso no rosto. 
— Boas notícias! — ele disse. — Percy pode entrar para a legião.
Vamos nomeá-lo em uma Coorte no jantar de hoje à noite. Diga a Reyna que eu aprovo.
Os ombros de Hazel relaxaram.
— Hã... ótimo. Vamos, Percy.
— Ah, e Hazel — Octavian disse. — Estou feliz em dar as boasvindas a Percy na legião. Mas quando as eleições para pretor chegarem, espero que se lembre...
— Jason não está morto — Hazel respondeu. — Você é o agoureiro. Era para estar procurando por ele!
— Ah, eu estou! — Octavian apontou para a pilha de animais de pelúcia destripados. — Consulto os deuses todo dia! Ai de mim, depois de oito meses não achei nada. Claro, ainda estou procurando. Mas se Jason não voltar até a Festa da Fortuna, precisamos agir. Não podemos ter um vazio no poder por muito tempo. Espero que você me apóie como pretor. Significaria muito para mim.
Hazel cerrou os punhos.
— Eu. Apoiar. Você?
Octavian tirou a toga, colocando ela e a faca no altar. Percy notou sete linhas no braço de Octavian — sete anos de acampamento, Percy adivinhou. A marca de Octavian era uma harpa, o símbolo de Apolo 
— Afinal de contas — Octavian disse a Hazel — devo conseguir te ajudar. Seria um desperdício se aqueles rumores terríveis sobre você ficassem circulando... ou, que os deuses proíbam, se eles virassem realidade.
Percy colocou a mão no bolso e agarrou a caneta. O cara estava chantageando Hazel. Estava na cara. Um sinal de Hazel, e Percy estava pronto para acionar Contracorrente e ver como Octavian gostaria de estar do outro lado de uma lâmina.
Hazel respirou profundamente. Seus dedos estavam brancos.
— Vou pensar sobre isso.
— Excelente — Octavian disso. — Falando nisso, seu irmão está aqui.
Hazel enrijeceu.
— Meu irmão? Por quê?
Octavian encolheu os ombros.
— Por que seu irmão faz alguma coisa? Ele está te esperando no santuário do seu pai. Só... ah, não convide ele para ficar por muito tempo. Ele tem um efeito perturbador nos outros. Agora, se me der licença, tenho que continuar procurando pelo nosso pobre amigo perdido, Jason. Prazer em conhecê-lo, Percy.
Hazel saiu correndo do pavilhão, e Percy a seguiu. Ele tinha certeza que nunca esteve tão satisfeito em sair de um templo em toda sua vida.
Enquanto Hazel descia a colina, ela amaldiçoava em latim. Percy não entendeu tudo, mas ele pegou filho de uma górgona, cobra sedenta de poder, e algumas sugestões de onde Octavian podia enfiar sua faca.
— Odeio esse cara — ela murmurou em inglês. — Se tivesse um jeito...
— Ele não vai se eleger para pretor mesmo, vai? — Percy perguntou.
— Queria poder ter certeza. Octavian tem um monte de amigos, a maioria deles comprados. O resto dos campistas tem medo dele.
— Tem medo de um carinha magrelo?
— Não o subestime. Reyna não é tão ruim, mas se Octavian compartilhar seu poder... — Hazel tremeu. — Vamos ver meu irmão. Ele vai querer te conhecer.
Percy não discutiu. Ele queria conhecer esse irmão misterioso, talvez descobrir algo sobre Hazel — quem era seu pai, que segredo ela estava escondendo. Percy não podia acreditar que ela tinha feito alguma coisa para ser culpada. Ela parecia tão legal. Mas Octavian tinha agido como se soubesse de alguma coisa de primeira sobre ela.
Hazel levou Percy para dentro de uma cripta preta ao lado da colina.
De pé na frente dela estava um adolescente em jeans preto e jaqueta de aviador.
— Ei — Hazel chamou. — Te trouxe um amigo.
O garoto se virou. Percy teve outro daqueles flashes estranhos: como se fosse alguém que ele devesse conhecer. O garoto era quase tão pálido quanto Octavian, mas com olhos escuros e cabelo preto bagunçado. Ele não se parecia com Hazel. Ele usava um anel de caveira de prata, um cinto de corrente e uma camisa preta com desenho de caveira. Do seu lado pendia uma espada preta.
Por um microssegundo quando viu Percy, o garoto pareceu chocado — em pânico, como se tivesse sido pego por um holofote.
— Esse é Percy Jackson — Hazel disse. — Ele é um cara legal.
Percy, esse é meu irmão, o filho de Plutão.
O garoto recuperou a compostura e levantou a mão.
— Prazer em conhecê-lo — ele disse. — Sou Nico di Angelo.

Gostaram? eu amei esse final da um suspense! 
Pessoinhas, logo vamos ter o outro cap não se preocupem

                                                                                                                                        Tchal!


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